31 de dezembro de 2010

Nós


Não havíamos marcado hora, não havíamos marcado lugar.
E, na infinita possibilidade de lugares, na infinita possibilidade de
tempos, nossos tempos e nossos lugares coincidiram. E deu-se o encontro.
Rubem Alves


Você não tem idéia, mas você acabou de salvar a minha vida. Com o seu papo sobre política, com os seus cuidados, seu carinho, sua amizade, sua lealdade, sua sinceridade, com o furo do teu queixo, com a maciez do seu cabelo, com as suas mãos suadas, com a sua pélvis, com as suas pernas, com as suas palavras você acabou de me salvar. Me salvou de anos de procura, de anos de depressão, de anos de cansaço. Eu ainda estou levantando a mão e sentindo a curva das suas costelas, eu ainda estou fechando os olhos e descobrindo prazeres em você que eu nem sabia que existiam. E eu nem sabia que existia, também, esse tipo de sentimento. A entrega sem medo, o amor sem fuga, a vitória sem cansaço, a luta sem perda, a conquista, o final feliz.
Eu só quero você e todos os benefícios que isso me traz. Quero deitar num campo para olhar as estrelas com você e lembrar que as suas pintas parecem uma constelação. Quero assistir filme e comer pão de queijo pela primeira vez com alguém perfeito (e todas as imperfeições que alguém perfeito pode ter) ao meu lado. Quero que a gente nunca perca de vista o nosso foco principal, que é ser feliz. E que lembre que nos dias difíceis, sempre teremos o peito um do outro no final do dia. E quero que batalhemos juntos, que consigamos juntos, e que lembremos que juntos somos mais fortes. Quero que entendamos que a felicidade não é o destino, e sim a viagem, e que a nossa começou no dia 9 de dezembro. E que assim começamos a ser felizes, e seremos muito mais felizes nessa jornada que eu tenho certeza que será maravilhosa. Quero que você nunca deixe de pensar em mim quando ler Abreu, assim como eu nunca vou deixar de pensar em você quando ouvir Swift. E que a gente se lembre sempre que a gente se reconheceu de sempre, mesmo que nunca tenhamos nos visto. E que existem sinais divinos, astrologicos e espirituais cospirando à nosso favor. E quero que você saiba que, se eu puder, vou passar o resto da minha vida falando o quanto você é especial, o quanto você é brilhante e bonito e o quanto eu te amo.


Matheus Oliveira

15 de dezembro de 2010

O melhor de mim


"Você é uma possibilidade minha, menino. Possibilidade não verbalizada. Como um sentimento sem nome, feito de uma palavra estranha. Palavra que nunca vai caber em dicionário nenhum, e que ninguém nunca vai inventar. Repetição? Sim. É que eu tento apagar, eu minto pra satisfazer tuas vontades, te pedindo pra não vir. Mas você fica. E vai sempre ficar. O inevitável dança aos meus olhos. Aí chega a hora em que distribuo um segredo: o tudo que faltava, talvez seja você. Digo e vou dormir, sem sonho, mas dentro dele."
Caio Fernando Abreu


Há um mês eu não a conhecia. Passei 17 anos sem sequer imaginar esse gosto, esse cabelo, essa voz, esse sorriso, essa força sobrenatural que passou de você para mim. E agora, diante dos nossos poucos momentos, eu tenho sido a pessoa mais feliz do mundo. E não importa o que você diga sobre o seu cabelo, seu nariz, seu jeito, sim, a culpa é sua sim, e eu tenho que agradecer por isso. Sinta o que quiser por saber que você é a responsável, a culpada pela minha felicidade. Você zerou a minha vida novamente. E é por nós dois juntos que eu venho planejando, pensando, pesando, repensando, que tenha feito algumas declarações aleatórias e, mesmo com alguns erros, vivido. Quero tirar dos seus ombros e dividir com você o fardo que você carrega, quero ser o seu lugar de descanso em meio a medos e agonias. Quero fazer você se sentir feliz todos os dias de sua vida, acredito que essa seja a minha missão agora, não recebi você por acaso. Saiba que em mim, você tem um porto seguro, e estamos nos firmando em uma rocha. God only knows what I'd be without you.
Estive pensando nesse mistério lindo que você é para mim e eu sou para você e que ainda seremos, sempre, um para o outro. Nessas oportunidades maravilhosas de encontros que nos foram dados por meio do destino, sina, astros. Nessa expectativa que eu crio no coração antes de te ver. Nessa paz que eu sinto ao seu lado e me faz querer recostar nos seus ombros e repousar cansaços. Na saudade absurda que eu sinto mesmo sendo os nossos primeiros momentos. Nesse abraço de chegada e despedida que começam horas antes de acontecerem e duram uma eternidade. Nesse seu cheiro de paz no coração. Nessa vontade de deixar o mundo em espera enquanto eu desfruto, sem peso nenhum no coração, esses momentos que me fazem sentir melhor, tão melhor, melhor para você.

Matheus Oliveira

5 de dezembro de 2010

E acontece que eu ainda sou babaca, pateta e ridícula o suficiente para estar procurando O verdadeiro amor. Pára de rir, senão te jogo já este copo na cara. (...) Ele vai sentar na minha mesa, me olhar no olho, pegar na minha mão, encostar seu joelho quente na minha coxa fria e dizer: vem comigo. É por ele que eu venho aqui, boy, quase toda noite. Não por você, por outros como você. Pra ele, me guardo. Ria de mim, mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro o verdadeiro amor. Cuidado, comigo: um dia encontro.

Caio Fernando Abreu
Acordar no meio da tarde, de ressaca, olhar sua cara arrebentada no espelho. Sozinho em casa, sozinho na cidade, sozinho no mundo. Vai doer tanto, menino. Ai como eu queria tanto agora ter uma alma portuguesa para te aconchegar ao meu seio e te poupar essas futuras dores dilaceradas. Como queria tanto saber poder te avisar: vai pelo caminho da esquerda, boy, que pelo da direita tem lobo mau e solidão medonha.

Caio Fernando Abreu
Porque no meio dos restos dos gostos de vodca, lágrima e café, entre as pontadas na cabeça, o nojo da boca do estômago e os olhos inchados, principalmente às sextas-feiras, pouco antes de desabarem sobre mim aqueles sábados e domingos nunca mais com Ana, vinha a certeza de que, de repente, bem normal, alguém diria telefone-para-você e do outro lado da linha aquela voz conhecida diria sinto-falta-quero-voltar. Isso nunca aconteceu.

Caio Fernando Abreu
Por que não lhe disse antes? Apertá-lo demoradamente contra o meu peito e dizer. Não disse porque pensava que tinha pela frente a eternidade. Só me resta agora esperar que acontença outra vez, vislumbro esse encontro - mas vou reconhecê-lo? E vou me reconhecer nos farrapos da memória do meu eu?

Lygia Fagundes Telles

3 de dezembro de 2010

Todos que vão


Pelo exercício de fé que nos foi concebido, meu Senhor, tenho alguns pedidos a fazer. Eu sequer acredito, mas se o Senhor existir, uso todo o resto de fé para pedir por eles.Não que isso fará alguma diferença realmente, mas é bom pedir, pois a fé nos enche de esperança e pedidos é o que fazemos quando tudo está mal. E apesar de eu já não ter mais fé alguma, não peço por mim e sim por eles, e o Senhor leve em consideração isso. Queria pedir a Deus, qualquer que seja a concepção disso, as suas mãos sobre a Terra, principalmente para aqueles que hoje estão partindo. Um olho luminoso para todos aqueles que se perderam no meio do caminho e que não sabem mais para onde ir. Toca no coração daqueles que não sabem o que é amor, porque às vezes precisamos disso mais do que Senhor. E para aqueles que já amam, abençoa-os para que eles possam prosseguir, firmes, sem perder partes de si mesmos. Quero também um olhar piedoso para aqueles que manipularam, dissimularam, traíram, vingaram. Um olhar generoso para as pessoas que já tem tudo e não se contentam com nada. Dê forças especiais aos que ficaram, pois uma parte deles se foi junto. Cuida dos fracos que perderam os apoios, os toques, os carinhos, as reciprocidades. Dê fôlego para os que desistiram, depois de tantas quedas, tantos traumas e tantas mágoas é muito difícil se manter em pé. Para os casais que se perderam, luz para se encontrarem. Para os casais que permaneceram, luz para continuarem. Olha por aquela garota que dança para se sentir feliz. Olha pelo rapaz que ouve dez vezes seguidas The Blower's Daughter e chora. Olha por aqueles que lutaram e venceram. Pousa teu olho sobre aqueles que estão cansados de tentar e não conseguir. Conceda a eles algumas vitórias, antes que eles se tornem frios demais para tentar. Abençoa a todos aqueles que querem ser uma coisa e não conseguem, que querem assumir uma verdade e não tem força para isso, não deixe eles cairem no contentamento. Não esquece dos abençoados por dons, faça que tudo possa correr da melhor forma para eles pois há espaço para todos. Dê animo para aquelas moças que tentam tanto e conseguem tanto, que para pagar as despesas dão duro como garçonetes ou empregadas. Pousa teu olhar amoroso para todos aqueles que assistem os naufrágios de suas ilusões. Pousa teu olhar caloroso para aqueles que passaram frio, seja interno ou externo. Um olho generoso para aqueles que vão dar grandes passos, para que consigam, enfim. Ouça as preces dos católicos, evangélicos, budistas, espiritas, espiritualistas, pois eles procuram pelo Senhor, lutam pelo Senhor, choram para o Senhor os ouvir. Escute o coração dos ateus e agnósticos também, seria injusto culpá-los pela descrença.
Senhor, hoje, amanha e sempre, ilumina o cotidiano deles, abençoe eles, segure eles, guie eles. Para todos nós, que nos esforçamos tanto, que desistimos um pouco todos os dias e no dia seguinte estamos com a cabeça em pé, sorri, abençoa a nossa triste miséria e nos dê forças para continuar todos os dias.

Matheus Oliveira, daquele que fica para aqueles que vão.

21 de novembro de 2010

Você, de preto e branco


Não sei mais o que dizer, não sei mais como dizer sem parecer reduntante, sem parecer que já tenha dito ou estava prestes a dizer até que. Então, vamos nos situar no tempo e espaço: era uma manhã ensolarada, mas as paredes eram frias. Esperei e esperei por você, permaneci e encostei numa dessas paredes, paredes essas que já estavam ali antes de eu ter chegado até elas, antes mesmo de ter chegado a este mundo, e portanto, quem era eu para reclamar de alguma espera que você me impusera, já que as paredes estavam ali e ali em pé já fazia tempo. O que era essa espera?
Confesso que, a principio, gostava pouco de você. Mentira, eu não gostava mesmo de você. Quem era você para rir alto pelos cantos, para ser minúscula assim do meu tamanho, quem era você, meu Deus do céu? E então despontou a sensação de que o ponteiro do relógio não se movia, e começou a me dar uma sensação de que nada seria e que, cedo ou tarde, eu precisaria de mais alguém como eu além da menina dos olhos de jabuticaba. E você estava ali, rindo tão alto e tão pequena e tão do meu tamanho, e tão cheia de vida e tão cheia de graça, e nossa, quem era você?
Lá dentro daquele lugar cheio de paredes e intenções mortas, faltou ventilação e você já andava agarrada em minha cintura e eu me vi tão seu, tão seu, que baixou a impressão de que eu nunca mais seria meu de novo. Sentávamos e andávamos todos os dias, finalmente, finalmente juntos, finalmente minha, finalmente seu, deixando as músicas tomarem lugar de um vazio, de uma falta, de uma cratera e eu deixei, sorrateiramente, meus braços encostarem no seu corpo. You are first on my list, I never knew that I could feel like this, sempre vai haver uma canção cantando tudo de nós, não é mesmo?
Era uma manhã de sol, era uma manhã de chuva, o ar estava abafado, as paredes estavam geladas, e então eu senti, senti ali e ali eu senti que você, assim, tão pequena do meu tamanho, vestida de branco da camiseta e preto do couro vale mais e vale mais e vale muito mais do que qualquer outra em cores.


Matheus Oliveira, para Letícia. Parabéns: pelo aniversário, pelo gosto musical, pelos carinhos, pela felicidade, pela mãe muito fofa que você tem, pelas brincadeiras além da conta, pelos sorrisos alem da conta e por todos os dias de nossa vida, que eu tenho certeza que será maravilhosa.

9 de novembro de 2010

Ser mais você.


São tão raras as pessoas especiais nesse mundo que fiquei a admirando e me esqueci, por um milésimo de segundo, naqueles cantos sujos daquela escola cheia de histórias e intenções mortas. Depois, sobrevoei Bárbara com asas falidas e entrei debaixo de sua proteção, lá me desnudei emocionalmente e pus para fora do meu peito todas as emoções pesadas que eu carregava em mim. Vomitei em seus pés pessoas e sentimentos.
Você é linda, você é forte, você tem um útero, você tem esses buracos onde eu posso esconder os meus exageros e não sentir vontade de me cortar em praça pública, de tanto que sobra. Não sei muito ao certo o que te dizer, mas sei que com os seus passos lunáticos e com a sua voz que emana muita paz, eu salvei segundos dos meus dias, salvei dias da minha existência, salvei as pulsações pesadas que eu ouço na hora de dormir, que me contam de segundo em segundo e confundem o vazio com resto de prazer.
Quero sentir aquilo de novo, meu amor, quero morrer de dor no peito e ter certeza que é mais ou menos amor mesmo. Qual é mesmo a analogia que fala de água, sal e boiar? E Bárbara corre até mim em passos leves que também são de borboleta - além de seus beijos - e diz, colada em mim: Mar morto. Essa é a analogia que a gente fez com o mar morto. Onde você boia sem fazer força e arde só para sentir qualquer coisa plausível.
Então não para, eu tenho um documento que estava em branco mas agora está cheio de você. Continue tentando disfarçar a dor nos pés, continue tentando controlar o desespero de perder o controle, vamos dar mais uma volta, me olha assim de novo com esses olhos grandes e profundos.
Continua fazendo sombra para mim em dias de sol, me enfiando nos cortes, polindo minhas armaduras, alivie minhas dores, meus tormentos, continue curando a falta do meu peito, a cegueira do meu olho. Me jogue realidade e ilusão e faça de mim o que você sempre fez: seu. Bárbara, eu não sei viver, eu não sei sentir, e sei muito menos não sentir, então me tranca em qualquer lugar perto das suas costelas que aí eu continuo me inebriando na sua vida.
Eu sei que se eu sentir qualquer coisa que não seja você, eu volto a expelir lixo e aí ninguém vai chegar perto de mim. Se eu absorver alguma coisa que não é você, eu crio casco e unhas gigantes que machucam as pessoas e procuram os pontos fracos dos outros para se sentir mais forte. Se eu não enxergar você eu me lembro daquelas cabeças que só querem querer, gozar e fugir.
Eu não quero lembrar de que não sobrou nada dos tijolos que eu pus meio sem jeito em cima do nada. Eu não quero lembrar que o vento passa pelas minhas janelas tão forte que quase arranca os pedaços que eu custei a colar. Eu não quero lembrar do mundo e do seu poder regenerativo enquanto eu a cada dia perco mais e mais e ainda assim não consigo levantar de manha de tanto que meu corpo pesa.
Bárbara vem, chama o guincho, vamos embora daqui por favor. Quero ver beleza, quero ver verdade, não aguento mais ter nojo de todo mundo, medo de todo mundo, descrença em todo mundo. Como é que você faz isso de modo tão extraordinário, de não sentir e ainda brilhar como se fosse sol? Então é isso, eu preciso que você seja tão grande e brilhante nos meus olhos que não deixe mais nenhuma alma suja aparecer. Eu quis amar alguém de verdade, e você com os cílios de verdade e as suas emoções de verdade é a única pessoa de verdade que eu conheço.
Eles não, eles são sujos, eles tem segundas, terceiras e quartas intenções, eles procuram qualquer pessoa para esfregar as suas periferias nojentas, eles machucam, eles se fantasiam de personagens de desenhos animados, eles esquecem tanto amor. Eles não sabem o que é sentir com a força de mil mundos e então parar, estacionar. Eu sei o que se passa dentro de você e então espero que seja digno de estar contigo.
Então continue com a sua dança, continue sendo metade borboleta, continue sendo inteira, porque enquanto você continuar sendo você, eu continuo sendo você também.

Matheus Oliveira, para Bárbara Bueno, pela vida.

5 de novembro de 2010

Os que existem


Tenho três zilhões de amigos e ainda assim eu não poderia sentir um vazio tão oco. O meu melhor amigo sabe muito pouco sobre a minha vida vida porque ele é muito limpinho e tem agonia desses paninhos que deixam pelinhos pelos cantos. Eu sou um paninho muito grande e consequentemente tenho muitos pelinhos, que eu seguro, aperto, às vezes escorrega um mas eu consigo me abaixar quase tombando e recupero. Deus que me livre sujar o branco e o impecável com o que é feio e desgraçado. Não tem mais bagunça na sua sala e nem pelinhos brancos nos seus cantos. Estamos bem, prosseguimos. Tenho outro amigo que é a encarnação de um deus grego na terra. É de uma beleza de tirar o folêgo e tem um humor delicioso. Mas como todas as pessoas muito desejadas, ele não precisa e nem quer ouvir sobre os calos, dentes e hematomas que uma pessoa vazia pode ter. Ele quer se divertir, e sabe que se não for comigo, existem milhões de possibilidades de destino. E então continuamos. Minha melhor amiga foi expulsa da minha vida por forças maiores. Não a vejo faz tempo, mas tudo bem, seguimos em frente. Minha outra melhor amiga não é boa em te levantar das quedas. Além disso, sempre que pode, tira sarro da cara dos outros. Ela me ama muito, mas também adora que as pessoas errem, só para poder se sentir acertando. E não existe problema, prosseguimos. Existe a outra melhor amiga também, que é a minha xerox. É exatamente como eu, pensa como eu, fala como eu e até as mesmas piadas. Ela consegue me erguer por algumas horas, mas olha? Tá dificil até para ela. E a minha melhor amiga de todas é perfeita. Mas apesar da força íncrivel que ela aprendeu a ter para me proteger, ela não sabe como me segurar quando alguma coisa dá errada em mim.
E é isso. Cansei de negar a realidade que atiram em mim. Eu corro atrás de quem não se importa, sim, porque eu preciso acreditar que alguém vai se virar e começar a se importar. E eu pago um pau, sim, para quem teve o poder de me fazer sentir, senão completo, pelo menos semi-preenchido. Eu invento amor, sim, e dói admitir isso. Eu faço história em cima de conto breve, sim, três saídas e um beijo as escondidas é o suficiente para eu encontrar o amor da minha vida. É isso, eu sou oco e quando a solidão dói, eu preciso sair as ruas inventando personagens. Me desculpem.

Matheus Oliveira

31 de outubro de 2010

Não vou perguntar porque você voltou, acho que nem mesmo você sabe... Eu também não queria perguntar, pensei que só no silêncio fosse possível construir uma compreensão, mas não é, sei que não é, você também sabe, pelo menos por enquanto, talvez não se tenha ainda atingido o ponto em que um silêncio basta? É preciso encher o vazio de palavras, ainda que seja tudo incompreensão? Só vou perguntar porque você se foi, se sabia que haveria uma distância, e que na distância a gente perde ou esquece tudo aquilo que construiu junto. E esquece sabendo que está esquecendo...


Caio Fernando Abreu
Perdi algo que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se tivesse perdido um terceiro apoio que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Esse terceiro apoio eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Sei que só com duas pernas é que posso caminhar.


Clarice Lispector

25 de outubro de 2010

Tocar o chão


Quando a vi pela primeira vez. Há sempre esse espaço de tempo: quando a vi pela primeira vez e o depois. Quando a vi pela primeira vez, Bárbara era alta e forte, impenetravel, a esperada, o certo, a inquebrável. Ela tinha as unhas amarelas e chegou estufando o peito, como se fosse muito acima de qualquer coisa mas deixando transparecer uma leve insegurança num milésimo de segundo. Ao invés de eu perceber suas pernas, fiquei apenas me perguntando como é que uma garota igual a ela conseguia se sentir insegura. Nos segundos, dias e meses que se seguiram, toquei nela e senti no céu da boca um lugar com muita paz, coisa que só as pessoas muito boas conseguiam proporcionar. Senti do paraíso de poder deitar no chão com ela após uma das grandes quedas até poder carregar ela no espaço entre as minhas asas e a minha costela. Now my feet won't touch the ground now my head won't stop you wait a lifetime to be found. Camaleão, quimera, musa. Sua bondade a faz acreditar que o mundo é bom, e ao mesmo tempo blasfema toda a sujeira que a obrigam a ver. Pensou então, talvez, que não seria o bastante viver só com a risada. Provou do veneno que diminui os grandes e continuou em pé. Não arredou nem um milimetro de seu corpo em negação, não aceitou perder. Com essa falta de jeito para se entregar, com esse brilho no olhar que mistura medo e muito amor, com algumas marcas roxas no corpo e alguns machucados internos, Bárbara me protegeu de mim, me ajudou a dizer não aos meus medos e desejos nocivos, ambos tão intensos que não poderia ser outra pessoa, além dela, para se tornar, alem do meu amor, a minha cura.

Matheus Oliveira para Bárbara Bueno

19 de outubro de 2010

Eu quero eternizar o seu sorriso lindo – mas eu nunca falei dele pra você.
Nem falei do seu cheirinho bom. Que é o cheiro de uma nova vida que eu estava precisando tanto... E você nem sonha que eu sou meio ciumenta, bem chata, quero ser mãe e acredito no amor da minha vida. Acredito no amor pra sempre. Acredito em alma gêmea.

Tati Bernardi
Depois eu lembrei que todo mundo passa mas ninguém fica e tive vontade de chorar o choro mais longo e pesado do mundo. (...) Eu fui embora, tendo certeza mais uma vez de que nunca sou eu que vai embora.

Tati Bernardi

16 de outubro de 2010

A partida

no hero in her sky


Tomou com sua mão a minha mão,
num gesto amigo
que me confortou,
e assim introduziu-me no mundo das
secretas penas. Suspiros, choros,
gritos altos, e desesperados
corriam
naquele lugar escuro.Ouvindo-os, meu pranto corria também.
(A Divina Comédia - Dante Alighieri)


Forçava a mente para tentar lembrar aonde lera. "Naquele fundo vimos, após, gente de cor brilhante revestida, o avançar chorando e com passos fartos" e "que alguns segundos antes, sentiria o seu corpo inteiro relaxar por completo - como um golpe". Era isso, em nenhum momento uma dor, nem alegria, nem riso. Nada crescia de dentro de seu peito, nem borbulhava na sua garganta. Não havia alma querendo vir à tona, não havia gestos nervosos e ensaiados na frente do espelho grego. Ela percebeu que estava indo embora de si mesma como quem dorme, que não estava fugindo de nada, estava apenas escorregando para longe. Poético, até, esses sentimentos que passam por entre os dedos e se sublimam até não haver mais nada. Seria então esse o tempo anunciado de avançar chorando com passos fartos e corpos relaxados e um pouco inertes? Só sabia que partia assim, sem ter tempo de nada, rápido, decidida, imponente, impotente.


Matheus Oliveira

15 de outubro de 2010

Metal heart, you don't worth a thing


Lá está Carolina novamente. Sentada no sofá, de frente para festa. Algumas pessoas, alguns gestos, alguns toques, mas todos agora parecem assim um amontoado de massificações. Palavras perdidas, toques mal feitos, sorrisos mal ensaiados. Acontece que Carolina já não via mais o rosto de Fernando em todos os outros rostos, alguma coisa havia rompido. E então passou a fazer um esforço gigantesco para sair de casa. Talvez ela, talvez os outros, quem sabe. Pensava agora que era dolorido demais estar destinada a ser a substituta na vida das pessoas, mas quem não é? Dava tudo de si para preencher os buracos, as faltas, as exigências, servia de curativo para as feridas dos outros e depois - nada. Às vezes alguém aparecia, sim. Às vezes não.
E assim Carolina passou o resto dos dias, alguns trocares trocados em segredo, alguns sorrisos indecifráveis. Assim Carolina passou o resto da semana: sem nada no peito, sem nada no estomago, sem nada no coração. Era inteira uma ordem silenciosa - interna, maciça, tátctil. Ela não podia se permitir nada, todo tempo, seria loucura demais, iria doer demais. E assim Carolina passou o resto dos meses.

Matheus Oliveira

27 de setembro de 2010

Eu tô sentindo uma falta. Daqueles dias.. aqueles em que eu era muito, muito muito feliz. Nossa, eu já fui feliz demais. Eu sabia como era (...) Deixa pra lá. Eu acordava só para (...) Deixa pra lá. Eu dormia só para sonhar (...) Deixa pra lá. E de tanto deixar tudo pra lá, eu fui pra lá também. Fiquei jogada, atirada, quase morta. Eu não sorri hoje, e parece que alguém veio aqui, me apresentou uma faca e disse que roubaria meu sorriso. Disse, foi lá e fez. E eu fiquei. Fiquei sem nada. Agora vim pra cá. E continuo sem nada. Nada dá certo comigo, eu não sei. Eu não sei viver bem. O problema sou eu. Virei as costas para tudo, e quer saber... Deixa pra lá. Que lixo. Hoje realmente não dá... não dá pra ser feliz. Preciso morrer só um pouquinho para viver muito. Preciso que alguém devolva o meu sorriso, porque... vou te contar, é o que eu mais gostava de fazer.

Gabi Macedo

25 de setembro de 2010

– Você sabe que de alguma maneira a coisa esteve ali, bem próxima. Que você podia tê-la tocado. Você podia tê-la apanhado. No ar, que nem uma fruta. Aí volta o soco. E sem entender, você então pára e pergunta alguma coisa assim: mas de quem foi o erro?

Caio Fernando Abreu
Até onde podemos ir? Até o limite do suportável. Um belo dia, depois de inúmeras repetições do mesmo erro, a gente desiste. Com tristeza pela perda, mas com alegria pela descoberta, diz pra si mesmo: “cheguei até aqui”. E, então, a vida muda.

Martha Medeiros
Queria te dizer, sua escrotinha que dorme comigo todas as noites, que nenhuma das vezes em que eu cheguei perto da janela e fiquei na ponta dos pés, eu estava sendo sincera. Queria te dizer que, apesar de você se sentir imensamente sozinha de vez em quando, eu sou milhares, e todas essas milhares te acham a melhor mulher do mundo. Queria bater palmas pra todas as vezes em que você sacrificou o que você mais amava em nome de seguir a diante com o teu fígado e todas as vezes em que você ficou pequenininha para que ficar grande fosse ainda maior.

Tati Bernardi

18 de setembro de 2010

Índice: Rupturas


Aquela ruptura era, em especial, diferente de todas as outras. Não haviam promessas nem planos feitos e, consequentemente, não haviam também expectativas. Por isso - por não haver nenhum "eu sou seu" -, não haviam também motivos para se partir. Os planos eram simples, eles deveriam se manter intactos e íntegros. Mas e quando o contrato é violado por um dos assinantes? E quando era preciso fugir para manter a cabeça no lugar? Carolina não sabia.
Mas então baixou a pressa. Era preciso - e imediatamente - fugir. Porque Carolina não suportava mais todos aqueles começos, todas aquelas idas e vindas e estou aqui, por você, mas ali por ela também. Não suportava mais todas aquelas coisas por dentro sem um sabor, sem uma cor. Mas ela sabia que não importava todas as fugas, não importava os bares, o trânsito, tentar se proteger da chuva interna e externa, o emprego novo, o namorado novo, as corridas matinais, as crianças correndo no parque, nada importava pois o que predominaria na sua mente, durantes meses (ou anos, por quê não?) era a respiração do outro, o toque do outro, o tom de sua voz.

Matheus Oliveira

17 de setembro de 2010

Em breve as sombras se afirmariam em escuro e ele não estaria mais ali. A idéia poderia quebrá-lo por dentro, porque era duro de repente não estar mais num lugar. Mas ele nem se machucava, há tanto já adivinhara os movimentos interiores prevenindo os receios, precavendo-se contra a série de sentimentaloidices que se amontoariam bruscas sobre seu coração.

Caio Fernando Abreu

12 de setembro de 2010

Doente e cansada


Então Carolina entrou correndo em seu apartamento e foi direto para o banheiro. Fixou o seu olhar no espelho durante muito tempo e com os olhos borrados, falou que sua ficha caiu. Ela estava completamente só e triste novamente. A cada vez mais só e mais triste. Ela tinha essa mania de acreditar no que juravam ser mentira, de depositar expectativas aonde já havia placa e documento de falido. E então se arrependeu por ser tão assim, cheia de quinas e dedos e exigências, tantas coisas e tão pontudas que havia afastado aos poucos a maioria das pessoas. Eram 6, depois 4, depois 2 e agora 1. E depois, sem sentir nada (porque já havia poucas coisas a se sentir), sem revolta, sem medo, sem espinhos, disse para si mesmo que ia parar. Para doer menos, deveria parar.

Matheus Oliveira

7 de setembro de 2010

De dois, um


- É pura magia.
Foi o que um disse dentro dos extremos da sala. A sala continha duas cadeiras velhas, um e o outro, feixes de luz entrando pelas janelas entreabertas e músicas. Ferozes, calmas.
- Aquela garota é feita de pura magia. Porque ela tem olhos grandes e cílios-postiços-verdadeiros. Não é corrompida nem com a desgraça mundial nem com o lixo que a fazem guardar debaixo da cama. Tem dedos de pianista, ela disse. De artista. E instituída de uma calma e beleza natural, sabe absolutamente tudo sobre buracos negros e brancos, que sugam e expelem.
O outro fez um movimento, como que prestes a falar, mas o primeiro não permitiu.
- Você vai perguntar se estou apaixonado por ela, eu sei. Mas não se preocupe, se fosse paixão, eu sentiria vontade de usufruir do seu corpo e não de sua mente. É mais do que amor, porque se fosse amor, a minha vontade seria de morrer e não de viver por ela. É alguma coisa indecifrada entre amor fraterno, amor de amigo e amor de pai.
No segundo seguinte, o outro se levantou e pôs-se a pensar. Era de fato diferente, essa garota. Conseguia equilibrar nas costas - e sem reclamar - qualquer extremo que lhe fosse dado. Se era dia de guerra, enchia-se de armadura para guerrear pelos outros. Se era dia de paz, sentava no chão e fazia ventar. Era perfeita. E então era isso, perfeição? Meu Deus, era essa a palavra que a descrevia. Enquanto isso, o primeiro acendia um cigarro e se distraía com a fumaça, esperando ver se ela conseguia chegar até o teto. Estava quase parando de falar, então sorriu e recomeçou
- Quero que dure, sabe? Essa viagem. Não sei, alucinação, talvez, o que eles chamam de efeito-colateral-do-remedio, efeito do ópio ou todo esse sentimento que eu não sei descrever. Espero que dure, porque essa história acabou de começar e já foi suficiente para acabar com todos os traumas e quedas que eu tive pelo caminho.

Matheus Oliveira, para Bárbara Bueno, em reciprocidade.

6 de setembro de 2010

- Sei, sei. Você vai perguntar: mas houve um erro? Bem, não sei se a palavra exata é essa, erro. Mas estava ali, tão completamente ali, você me entende?
(...)
- O erro? Eu dizia, pois é, o erro. Eu penso, se o erro não foi de dentro, mas de fora? Se o erro não foi seu, mas da coisa? Se foi ela quem não soube estar pronta? Que não captou, que não conseguiu captar essa hora exata, perfeita, de estar pronta. Porque assim como o movimento de apanhar deve ser perfeito, deve ser perfeita também a falta de movimento, a aparente falta de movimento do que se deixa apanhar. Você me entende? Eu penso também, e se houve alguma interferência no. No em-volta-dos-dois, no ar. No astral, eu penso também. Uma coisa de Deus, do invisível, do mistério, que embora pareça errada ao não te deixar apanhar o prometido, no entanto está absolutamente certa. Porque é assim que é. Naturalmente. As coisas sempre prestes a serem apanhadas. E você eternamente prestes a apanhá-las. Como uma sina. Sempre prestes.

Caio Fernando Abreu

3 de setembro de 2010

Como será que é acordar e não esperar nada com o toque do celular, da campainha, do messenger, do e-mail, do ar, do chão? Como será que é sentir e gostar da vida pela sua calmaria e banalidade? Como será que é viver a banalidade sem achar que isso é banal?

Tati Bernardi

31 de agosto de 2010

Do elevador


Porque Carolina sonhou que do elevador de seu predio, ela gritava a Renan que pertencia a ele, e só a ele. E sonhou que eles se beijavam um pouco escondidos e um pouco às claras, porque nada mais era errado, nada mais era feio, tudo bem, o mundo continuava girando. E sonhou, uma ultima vez, que Renan a encontrava nua e deitada e encolhida no chão, e ela dizia a ele que tudo bem, que ela não deixou ninguém tocar nela, afinal, ela era tão dele e ele, sempre como um anjo, deixava ela ficar ali por mais algumas horas.
E então aconteceu que ela o viu lavando a louça, limpando cocô de cachorro e rindo muito e se sentiu tão dele, tão dele que quis ficar mais um pouco. De dentro do ônibus, quis pedir para voltar. Nos pés da escada quis pedir para subir e dentro do elevador, sentiu vontade de parar. São menos de 2 metros que separam o elevador da casa dele.
21:21.
21:22.
21:23.
Eram pessoas indo embora em dúzias, e ele chegando para ficar. Para estabelecer contato terrestre com o divino. E então aconteceu que ela o viu descabelado, passando creme para não ficar manchado e tirando as meias, e se sentiu tão dele, tão dele que só pensa em ficar mais algumas horas

Matheus Oliveira

23 de agosto de 2010

- Ela é tão livre que um dia será presa.
- Presa por quê?
- Por excesso de liberdade.
- Mas essa liberdade é inocente?
- É. Até mesmo ingênua.
- Então por que a prisão?
- Porque a liberdade ofende.

Clarice Lispector

16 de agosto de 2010

Às vezes me espanto e me pergunto como pudemos a tal ponto mergulhar naquilo que estava acontecendo, sem a menor tentativa de resistência. Não porque aquilo fosse terrível, ou porque nos marcasse profundamente ou nos dilacerasse - e talvez tenha sido terrível, sim, é possível, talvez tenha nos marcado profundamente ou nos dilacerado - a verdade é que ainda hesito em dar um nome àquilo que ficou, depois de tudo. Porque alguma coisa ficou.

Caio Fernando Abreu

12 de agosto de 2010

Ferida, triunfante, eu respondia em desafio: pode me mandar! Ele não mandava, senão estaria me obedecendo. Mas eu o exasperava tanto, que se tornara doloroso para mim ser o objeto de ódio daquele homem que de certo modo eu amava. Não o amava como a mulher que eu seria um dia, amava-o como uma criança que tenta desastradamente proteger um adulto, com colera de quem ainda não foi covarde e vê um homem forte de ombros tão curvos.

Clarice Lispector

8 de agosto de 2010

Como num filme de estrada


Na minha vida toda, eu escolhi acreditar que eu estava dentro de um filme. Cada ação de cada pessoa era milimétricamente planejada, escrita. E comecei a agir pensando no que eu gostaria que acontecesse se eu estivesse assistindo esse filme. Eu era o personagem principal, e sendo assim, eu deveria chamar a atenção. Pensei que o personagem principal deveria ser simpatico, deveria se arrumar, deveria viver, machucar alguém, ser machucado e acreditar em destinos, histórias inventadas. Mas se eu já tenho 16 anos e nada aconteceu. Nenhum mundo se moveu, alienigenas invadiram a Terra, meus dias de outono não foram marcados por nada e nem ninguém, eu nunca consegui entregar meu coração a alguém que quisesse, e nunca consegui bloquear os sentimentos. Se nada acontecia diferente na minha vida, eu não era o personagem principal. Mas se essa é a minha história e o personagem principal não vive, eu comecei a me perguntar o que eu estava fazendo ali. Se eu não vivia tanto quanto tinha vontade, se eu não tentava todas as possibilidades de destino, se eu não saia todos os finais de semanas em busca de alguma coisa maior como eu deveria estar fazendo, o que eu estava fazendo ali?

Matheus Oliveira

30 de julho de 2010

O nosso filme


A primeira vista ela parece até comum, mas se você a observa por mais de dois segundos, percebe que ela tem alguma coisa. Eu não faço a mínima idéia do que seja, nem ela. Mas tem. O canto de dentro dos olhos dela são puxados, embora não haja nenhuma descendência asiática. Não tem jeito aquele lábio inferior grosso, aquelas (mãos) cutículas (e todo o resto) bem feitas (por Deus?). Mas tem. Vai saber o que ela tem. Ela me matou na banheira do nosso castelo, e fugiu com todo o meu dinheiro ao som de Marilyn Manson. E esse é o fim do nosso filme. O começo é comum em todos os filmes romanticos-dramaticos: Eu a vejo em um dia cinza e chuvoso, ela nem se apercebe da minha presença. E essa é a nossa história. Nosso romance. E depois desse tipo de viagem, voltamos a realidade e eu a acho ainda mais bonita, coisas que só amigos de verdade conseguem. Ser completamente louco por uma pessoa sem se apaixonar por ela.
Por um instante, quis inventar uma pessoa que fosse tudo o que ela é, mas com um pouco de não-pseudo-romântico. Mas ela era tão real naquele momento que me faltou a capacidade de ser enganado. Por um instante quis sentir a falta de alguém, mas ela, com essa simpatia absurda não me deixou sentir isso por mais ninguém. Dentro do melhor lugar do mundo, amei minhas verdades, meus não-sentimentos, meus medos e minha incapacidade de amar. Pela primeira vez na vida, o garoto baixinho, moreninho, cansado e de olhos pesados foi convidado sozinho para a festa que o resto do mundo estava dando, e Bianca também.
Ganhamos juntos o desafeto de algumas pessoas, nos acusaram das mesmas coisas e até concluimos que somos um pouco parecidos. Mas não se preocupa, coração, eles não sabem o que é dormir num lençol branco e puro e poder sonhar com tudo o quiser sem sentir o corpo pesado, eles não sabem abraçar um amigo de verdade e encontrar um "grande amor". E é isso, eu te amo do jeito mais diferente que alguém poderia te amar.
Andamos na rua ao sol, eu limpo as folhas de seu cabelo e ela olha para os seus próprios pés. Nosso romance é lindo, coração. Mesmo que não haja nada de um romance de verdade. Mesmo que não seja um romance de verdade. E é exatamente por isso.

Matheus Oliveira, para Bianca, pelos 60 dias de carinho, afeição, alma mais leve, músicas trocadas e pela beleza mais infinita que alguém poderia ter: de dentro e de fora. Algumas coisas são para sempre, algumas coisas acabam antes que a gente perceba. Espero que você dure, que a gente dure.

28 de julho de 2010

As diferenças


Foi aos poucos que Carolina se aproximava de Fernando. Uma troca de olhares com algum tipo de tensão, depois uma risada despreocupada, depois um toque, depois uma quase aversão junto com um quase amor. A vida dos dois eram marcadas por quases: Ela, quase bonita. Ele, quase simpático.
Carolina olhou em volta e notou que estava completamente vazia, as paredes do lado de dentro quase colando-se umas as outras. Não conseguia distinguir o que passava pela sua mente, esse sentimento sem cara de sentimento, essa dor que de tanto doer, nem doía mais. O clima pesado de que algo fora ferido era quase tangível. Mas não era. Nada mais era tangível para ela.
Fernando não sabia como é que se fazia, como é que se doava, como é que se conectava. Alguma coisa ficava perdida naquela busca de algo inatingível, sacrificava muito, ele que queria viver.
Se encontraram na ponta das escadas. De dentro dela, janelas abriam, portas rompiam, vidros estilhaçavam, o ar parecia fugir a cada toque, a cada olhar, a cada sorriso. De dentro dele, nada. Se houvesse qualquer coisa, ela poderia ao menos se segurar, qualquer coisa. Mas ainda não havia, de ambas as partes. Por mais que restassem estilhaços, de sonhos tortos não dava mais para conceber realidade. Apesar de cheia de tudo, Carolina estava vazia como Fernando. Para ele, não havia com o que se preocupar. Para ela, só não era amor. De resto, era tudo, inclusive fuga. Principalmente fuga.

Matheus Oliveira

25 de julho de 2010

Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais - por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia – qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido. Eu prefiro viver a ilusão do quase, quando estou "quase" certa que desistindo naquele momento vou levar comigo uma coisa bonita. Quando eu "quase" tenho certeza que insistir naquilo vai me fazer sofrer, que insistir em algo ou alguém pode não terminar da melhor maneira, que pode não ser do jeito que eu queria que fosse, eu jogo tudo pro alto, sem arrependimentos futuros! Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. Talvez loucura, medo, eu diria covardia, loucura quem sabe!

Caio Fernando Abreu
Fico tão cansada às vezes, e digo pra mim mesma que está errado, que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. E fico horas sem pensar absolutamente nada: (...) Claro, é preciso julgar a si próprio com o máximo de rigidez, mas não sei se você concorda, as coisas por natureza já são tão duras para mim que não me acho no direito de endurecê-las ainda mais.

Caio Fernando de Abreu
Cada vez que nos apaixonamos, estamos tendo a chance de acertar. Estamos tendo a oportunidade de zerar nosso hodômetro. De sermos estreantes. Uma pessoa acaba de entrar na sua vida, você é 0km para ela. Tanto as informações que você passar quanto as atitudes que tomar serão novidade suprema - é a chance de você ser quem não conseguiu ser até agora.

Martha Medeiros

19 de julho de 2010

Conexões


Carolina sempre fora do tipo de garota tímida, embora nos últimos tempos tivesse perdido essa característica para dar lugar a uma nova Carolina. Esta era um tanto simpática, um tanto comunicativa, aberta. Fernando já era do tipo de rapaz que não precisava de esforço para manter as pessoas ao seu redor. Se conheceram. Se conectaram. Mas era tarde demais para algumas coisas.
- Que horas são?
- Não sei...
Carolina, sempre impaciente, não conseguia ficar parada em um lugar por muito tempo. Talvez fosse os hábitos dos seus pais de se mudaram duas vezes por ano, talvez fosse as amizades que duravam menos do que namoros, não se sabe. Achava neurotizante, Fernando achava graça. Ela moveu-se de leve, colocando uma mão perto do coccix dele. Ele sentiu e fez um movimento involuntário para trás, para que houvesse o contato.
- Você bebe?
- Não, faz tempo.
- Você fuma?
- Uma vez, ou duas. Meus olhos lacrimejam um pouco
- Você bebe?
- Frequentemente
Eram mundos diferentes. Fernando era a idealização de todos os defeitos de um homem, mal recomendado por si, mas com uma beleza descumunal. E Carolina não era nem um pouco atraente. Não era feia, muito menos bonita. Não tinha os cabelos nem lisos nem cacheados. Não tinha a pele nem escura, nem clara. Não era nem muito baixinha, nem muito alta. Era comum, uma coadjuvante.
- Você quer beber alguma coisa?
- Talvez...
- Eu não devo ser muito atraente bêbado
- Isso eu duvido

Matheus Oliveira
Observo com atenção as criaturas humanas e sinto medo; não vejo a serena tranqüilidade de seres racionais. Pressinto que o animal vai de um momento para o outro, retomar a dianteira – e que a desumanização se dará em escala monstruosa

H. G Welles

17 de julho de 2010

Também aprendi que o amor interrompido em seu auge permanece bonito para sempre. O que pode ser muito doído ou pode ser um presente. Depende de como a gente quer guardar. Depende de como a gente quer seguir.

Cristiana Guerra

14 de julho de 2010

Juízo Final


Senta direito e não reclama, criança estúpida. Você não vai morrer sozinho, você não vai perder todos os amigos, você ainda vai escrever a tua história. Não precisa entrar em desespero desse jeito, não precisa fazer esse absurdo, esse inferno na terra. Tudo o que você precisa é paciencia, força para aguentar, vontade de tentar. Se você está assim agora, quero ver quando chegar o dia do juízo final. Você morre pelo que não acontece e gasta as tuas forças fazendo drama por qualquer coisa. Como se você não tivesse tamanho ou força para aguentar assim os empurroes da vida. Você é mimado, você é infantil, cresce pouco no corpo e nada na cabeça.
Então para de chorar. Para de acreditar que os outros vão te fazer mais forte. Agora o estado é o "você". Você tem o mundo inteiro para salvar, e não está sozinho. Então para, por favor, de pensar que está.

Matheus Oliveira

10 de julho de 2010

Crescer lendo livro mulherzinha fez com que eu jamais me conformasse com metades. Quero os melhores romances, ou prefiro ficar sozinha. Quero as melhores lembranças, ou prefiro não lembrar. Ou vivo intensamente, ou vou levando essa rotina que não incomoda, não interfere, não fere, mas também não é vida. Vou dispensando tudo o que não julgo suficiente pra me roubar a solidão. Vou excluindo do meu convívio todos que não parecem prontos pra marcar meu dias. E vou me excluindo um pouquinho também, vou me dispensando sem pudores, porque é mais fácil me deixar de lado do que lidar com a minha falta de coerência.
Estou ficando morna de tanto não me permitir ir além, de tanto calcular meus passos, me esconder em falsa timidez, evitar sentimentos, evitar relacionamentos, evitar gente só por ser gente e pela possibilidade de alguma coisa dar errado. Posso correr o risco de dar certo?

Verônica H
Sempre pensei que aconteceria, de criança acreditava nos adultos que era só pagar pra ver. Feio, meio assim desconfiado, perna em xis, já barrigudo, duvidando que eu conseguisse crescer. Mesmo assim, contudo, o tempo foi passando e eu fui adiando, mudo, os grandes dias que ia conhecer. Quem sabe amanhã? Próximo ano? Cebolinha com seus planos infalíveis ia me ensinar a ser forte, corajoso, bom de bola, um dos bonitos da escola muito embora eu não fizesse questão. Ainda bem que eu sou brasileiro, tão teimoso, esperançoso, orgulhoso de ser pentacampeão, já que se eu fosse americano pegaria uma pistola e a cabeça ia perder a razão: mataria quinze na escola, estouraria a caixola e apareceria na televisão. E por fim cresci, de insulto em insulto eu me vi como um adulto, culto, pronto pra o que mesmo? Já nem sei. Olho e não encontro, penso se não fui um tonto de acreditar no conto do vigário que escutei. Não tem carro me esperando, não tem mesa reservada, só uma piada sem graça de português. Não tem vinho nem champanhe ou taça, só um dedo de cachaça e um troco magro todo fim de mês. Tudo que eu sempre sonhei. Tanto que eu consegui... É tão bom estar aqui... Quanto ainda está por vir... Mas bobagem, quanta amargura, eu já sei que a vida é dura, agora é pura questão de se acostumar. Basta ter coragem e finura e o jogo de cintura aprendido dia a dia, bar em bar. Pra que reclamar se tem conhaque, se na tevê tem um craque e o meu Timão só entra pra ganhar? Pra que imitar Chico Buarque, pra que querer ser um mártir se faz parte do momento se entregar? E por fim tem até namorada, bonitinha, educada, séria, tudo o que mamãe vive a pedir. Tem beijinho e também trepada e a consciência pesada a cada nova vontadinha que surgir de outra mulher, de liberdade, de um amor de verdade, de poder fechar os olhos e sorrir, pensando que então, dali pra frente, seja qual for tua idade, o melhor ainda vai estar por vir!

Luiz Venâncio

9 de julho de 2010

Zodíaco


- Você é de virgem?
- Eu sou de Virgem.
- Eu sou de Áries.
- Áries é horrivel, né? Pelo menos é o que dizem.
- O que mais dizem?
- Que existem infernos e ascendentes astrais. Mas segundo "o que dizem", áries é o inferno astral de todo mundo.
- E o que é um ascendente?
- É o signo que está surgindo no horizonte quando você nasce. É meio que sua... Alma gemea.
- Qual é o seu ascendente?
- Peixes. Ou Áquario. O sexo com escorpião é ótimo. A coisa só não dura muito com Leão.
- E qual o meu ascendente?
(pausa)
- Virgem.
- Jura?
- Não, mas poderia dar certo.
- Talvez.
- Eu gosto de você.
- Por que?
- Porque você é o meu ascendente, talvez.
- Ou o seu inferno, talvez.
- Talvez.
- Eu gosto de você.
- Por que?
- Por que eu sinto que te conheço há anos. Mas só fazem esses minutos.
- É culpa do zodíaco.
- Talvez.

Matheus Oliveira

2 de julho de 2010

Sino dos ventos


Para relaxar, Carolina pegou uma xícara com chá e o seu livro de psicologia que o seu pai dera quando completara 16 anos e foi sentar-se na varanda. Ventava bastante, o sino dos ventos ressoava sem parar transmitindo um pouco de paz em algum lugar. Um pouco antes, apenas algumas horas atrás e sem saber o porquê, ela chorou porque se sentia um pouco mais gorda, mais feia, mais suja, mais incapacitada de amar do que o de costume. Ainda antes do que isso, se encontrou com alguém no elevador. Um sujeito muito bonito, meio alto demais e meio magro demais, mas engraçado e com alguma coisa no olhar diferente de todos os outros. E ele falava que dali a algumas horas, talvez nevasse um pouco. Ela sabia que nunca nevaria, mas estava fazendo muito frio e ele a convidara para tomar uma xícara de chá. Ela não aceitara, mas de alguma forma, alguma coisa ficou subentendida no olhar daqueles dois.

Matheus Oliveira

Meu orgulho diário


Orgulho maior, coração batendo fora do peito, em descompasso. Apesar dos pesares, das neuras, dos degraus e das lacunas, estou aqui. Orgulho maior, motivo de alegrias, risadas. Os meus sentimentos mais ternos são todos seus, completamente seus, unica e exclusivamente seus. Depois de todas as idas e vindas, você ficará bem aqui dentro, entre a minha asa e o meu coração. Depois de todas as despedidas doidas, eu ficarei bem com você, debaixo dos cabelos mais lindos que alguém poderia ter. Orgulho maior, queria eu ter essa paz, essa leveza e esse olhar. Foram horas e horas de assuntos aleatórios jogados ao vento, horas e horas de filmes contados, planos feitos e ilusões desfeitas. Com você é mais fácil. Com você tudo flui. E nem poderia ser diferente, afinal, você é o meu orgulho maior.

Matheus Oliveira, para Bárbara Bueno, pelas risada, finais de filmes contados, verdades, ajudas, manhãs adocicadas, prazeres absolutos, horas de felicidades, dias de esperança, meses de conversas e todo o tempo gasto na gente, pela gente.

1 de julho de 2010

São só imagens


Como se estivesse numa fuga constante, Carolina tomava ônibus e pegava trens nem ela sabia para onde. Com atitudes como essa, ela confirmava o que todos pensavam a seu respeito. Para algumas pessoas, ela era uma doente mental. Alguém que precisava de controle. Uma coitada. Ela transmitia esse tipo de imagem às pessoas pelas suas tatuagens, cabelos desgranhados e seu humor blasé. E todo mundo que tiravam essa impressão dela não desconfiavam das quedas, dos buracos pelos caminhos.

Matheus Oliveira
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Martha Medeiros
Então, eis a minha única curiosidade: você às vezes pensa nisso, como eu penso? Com um suave aperto no coração? Ou será que você foi apenas um idiota que esqueceu de ir?

Fernanda Young
A vida humana acontece só uma vez, e não poderemos jamais verificar qual seria a boa ou a má decisão, porque, em todas as situações, só podemos decidir uma vez. Não nos são dadas uma primeira, segunda, terceira ou quarta chance para que possamos comparar decisões diferentes

Milan Kundera

25 de junho de 2010

Espero você tocar a campainha olhando o escuro pelo olho mágico. Meu coração dispara mas eu mando ele parar. Estraguei todos os meus relacionamentos de tanto que meu coração dispara. Dessa vez quero acertar, dessa vez quero que alguém fique comigo ao menos um mês sem me achar louca. Cansei de sempre ser a garota louca que espanta todo mundo.

Tati Bernardi

23 de junho de 2010

Fogo cruzado

Carolina agora estava numa guerra, no meio do fogo cruzado. Haviam pessoas loucas por vingança e potenciais suicidas, e ela, mesmo não querendo se envolver, se envolvia. Mas de alguma forma, apesar de todas as quedas, homicidios, suícidios, apesar dos buracos, das marcas e das impressões, ela se sentia viva. Completamente viva. E protegida. Caio era uma espécie de muro alto feito de pedras fortes, impenetráveis. Ela sabia que nada a atingiria enquanto tivesse esse tipo de proteção. Carolina se recostava sobre ele, ele afagava seus cabelos desgrenhados e acariciava sua mão. Ela estava em queda livre e frequentemente consiguia respirar. E sentia que finalmente era bom durante o salto conseguir respirar fundo e não se sentir sufocada.

Matheus Oliveira

21 de junho de 2010

Então acordei, mais me dei conta de que o sonho tinha sim um pouco de realidade. Você estava saindo lentamente do meu campo de visão, tentei, e continuo tentando fazer isso parar. Mais a cada dia, quando eu penso que está tudo ótimo, a crise rebate sobre nós.

Gabriela Santiago

10 de junho de 2010

Depois da tempestade


Pela primeira vez em muito tempo, Carolina não estava pulando de precípicios em precípicios para se sentir mais viva. Pelo contrário: agora ela estava descendo aos poucos os degraus que ela mesmo criou, e com a ajuda certa, se chegasse ao chão não se machucaria.
Junho. O tempo passava mais rapido do que o desejado, mais rápido do que era saudável. Nessa nova etapa, Carolina deveria sentir todos os gostos e toques e gestos que ninguém nunca antes havia feito. Mas a única coisa que restava a fazer era esperar pacientemente pelos dias que viriam. Em cada um destes, ela tinha certeza, haveriam novos começos e alguns finais, as dores passariam completamente e então ela poderia fechar os olhos sem medo. Cada dia de sua vida agora traria um momento unico e completamente louco, e estes, por serem imutáveis, seriam eternos. Haveriam desejos e preces e algumas loucuras antes da ruptura.


Matheus Oliveira

31 de maio de 2010

Sobre quedas


Arthur não fazia mais parte da vida de Carolina. Apesar de todas as marcas, ele era agora como uma mancha de vinho numa toalha antiga: não fazia diferença, tanto fazia. Carolina pode crescer e testemunhar o chão, ao contrário do que sempre ouvira e até sentira, não era o fim. O chão era só mais uma etapa, como aprender a amarrar os sapatos ou andar de bicicleta. O processo de cair no chão é se espatifar fora um aprendizado incrivel. Com o passar dos dias, ela sorriu mais. O muque ficou mais forte. Os olhos se preencheram. E ela viu que era forte o bastante, que era grande o bastante para suportar.

Matheus Oliveira

24 de maio de 2010

De fada, de bruxa


Tenho quase a certeza de que ela não é desse mundo. Porque ela toca e para. Porque ela olha e para. Porque ela beija e para. O mundo para, a dor e até as águas do rio mais violento. Ela faz parar a dor de corações partidos e peitos abertos. Por isso essa certeza. De que ela pertence a outros mundos, tem outras luas, conhece outros povos. Não sabe o que é traição e nem consegue ser violenta. Tem jeito de fada, de bruxa, de anjo, de espirito. E como se não bastasse, é dona do olhar mais lindo do mundo, do sorriso mais quente do mundo e das mãos mais frias do mundo. E ela desfila por aí, feliz em ser filha, mãe e escrava do meu amor, absurdamente feliz em ser dona da minha paz. E é absurda em todos os sentidos, não enfraquece nunca, nunca. Tenho é orgulho dessa tua força que passa das tuas afinidades com os meus exageros. É a caixinha delicada do coração mais pulsante e lindo desse e de todos os outros mundos, e é por isso que eu faço questão de guardá-la para sempre.
Não vai embora, meu coração, por favor.

Matheus Oliveira à Barbara Bueno, luz de todas as manhãs e eternos olhos de jabuticaba

23 de maio de 2010

Só eu sei que cheguei à humildade máxima que um ser humano pode atingir: confessar a outro ser humano que precisa dele para existir. E no momento em que se confessa a precisão, perde-se tudo, eu sei.

Caio Fernando Abreu

22 de maio de 2010

Não é amor não. É mais que isso, é mais que amor. Porque pra te amar mais, eu tenho que te amar menos. Porque pra morrer de amor por você, eu tive que não morrer. Porque pra ter você por perto um pouco, eu tive que não querer mais ter você por perto pra sempre.E eu soquei meu coração até ele diminuir. Só pra você nunca se assustar com o tamanho [...] E eu vou continuar me fantasiando de não amor, só pra você poder me vestir e sair por aí com sua casca de não amor. E eu vou rir quando você me contar das suas meninas, e eu vou continuar dizendo “bonito carro, boa balada, boa idéia, bonita cor, bonito sapato”. E eu vou continuar sendo só daqui pra fora. Porque no nosso contrato, tomamos cuidado em escrever com letras maiúsculas: não existe ninguém aqui dentro. Mas quando, de vez em quando, o seu ninguém colocar ali, meio sem querer, a mão no meu joelho, só para me enganar que você é meu dono. Só para enganar o cara da mesa ao lado que você é meu dono. Eu vou deixar. Vai que um dia você acredita.

Tati Bernardi

21 de maio de 2010

Na corrida


Maio estava passando com pressa. Era isso, ou Carolina não estava prestando mais atenção no tempo, afinal, as datas no calendário deixaram de ter importância, os segundos iam passando sem sonoridade e quase despercebidos. Ela tentou preencher a mente, encher a mente. Preencher de positividade, otimismo, astrologia, cursos. Encher de coisas, amigos, bares, teatros, manias, vicios. Nem um segundo poderia ser perdido em pensamentos fúteis, nada de pensar. Nem um olhar perdido no horizonte, nem um suspiro de ombros sobrecarregados.
Após o recesso, voltaram as aulas do curso de fotografia. Ver o mundo num angulo novo nunca foi tão divertido. O mundo estava em chamas. As manchetes do jornal estavam ocupadas em anunciar as tragédias. Era tanta coisa para pensar, tantos caminhos para onde fugir. E entre uma fuga e outra, entre um click e outro, Carolina ainda arranjava espaço para encontrar Arthur em pensamentos. E queria que ele voltasse, queria que ele aparecesse e dissesse alguma coisa. "Nós não vamos partir". "Nós não vamos quebrar". Mas isso nunca acontecia. Esse foi o começo de toda a fuga. Carolina logo entraria em outra.

Matheus Oliveira

16 de maio de 2010

Fragmento


Arthur estava sentado na varanda de seu apartamento, com um suco natural (que Carolina jurava que faria bem). Fechou os olhos e tudo estava negro. Então ele apenas olhou a rua e sorriu, triste. Pegou o celular e passou lentamente todos os contatos. Ninguém. Nenhum número para discar, nenhum compromentimento. Porque ele havia sido expulso do coração de todas as pessoas, porque ele simplesmente não aguentava todas as pessoas do mundo, não sei, mas não sobrou ninguém. Nesse momento, quando ele já não sentia o chão embaixo dos seus pés tão firme quanto antes, ele se lembrou dela. Ele sabia que era amor e sabia que tinha acabado, mesmo que um dia ele tivesse dito que não. Foi então que ele ligou de novo para Carolina. Tentar consertar as coisas, por as coisas de volta no lugar. E ninguém atendeu.


Matheus Oliveira

15 de maio de 2010

Curativos

Arthur disse que não haveria motivos para alguém gostar dele, porque era demasiadamente feio e sujo e chato e arrogante e. E Carolina discordava. E o mundo discordava com Carolina. Arthur sempre fora o tipo de homem que deixava as pessoas hipnotizadas. Talvez pelas suas roupas ou pelo timbre de sua voz, quem sabe, mas deixava.
Então Carolina resolveu fazer uma lista. Deveriam haver duzias de motivos, pensou. E por mais que se esforçasse em pensar em outras coisas, ela pensou primeiro no modo como ela não conseguia sentir nada de ruim com Arthur por perto. Como se ele fosse uma grande muralha ou um buraco negro que sugasse forças negativas e vibrações ruins. O mundo ficava mais leve com Arthur do lado, para dividir o peso do mundo. Haveriam duzias de motivos, mas só o que importava era isso: Arthur fazia bem, muito bem. E doía, às vezes.

Matheus Oliveira
Porque o abraço dele era porta fechada. E nem todas as armas e armadilhas podiam alcançá-la dentro daqueles braços. O mundo e o medo ficavam lá fora. E os pensamentos que sussurravam ameaças ao pé do ouvido iam silenciando a cada batida do coração. Dele, que era dela. Quando algum sentimento perigosamente falava mais alto, ela o apertava ainda mais forte, como se tentasse atravessar de uma pele pra outra e deixar a sua vida ali, perdida na dele.

Briza Mulatinho
Nessa fração de segundos, quando seus pés se perderem do chão, você vai se lembrar da minha ternura e do meu sorriso infantil. Virão súbitas lembranças dos meus abraços e beijos, da minha preocupação com você. Em um novo momento, você vai sentir um aperto no peito, uma pausa na respiração e vai torcer bem forte pra ter nosso mundo delicioso de novo. O nome disso é saudade, aquilo que eu tinha tanto, e te falava sempre.

Tati Bernardi
Mas chega. Hoje decidi que estou prestes a assumir meu coração vazio. Não decidi isso movida por uma grande coragem ou por um momento de iluminação. Nada grandioso aconteceu. Apenas sinto que dei um pequeno, quase imperceptível, passo para uma vida mais madura. Eu simplesmente não suporto mais pintar o céu de cor-de-rosa para achar que vale a pena sair da cama.

Tati Bernardi

10 de maio de 2010

Mas a lição que eu aprendi no sábado é que não vale a pena consertar um carro pela décima vez. É mais fácil comprar um novo e fim de papo. Afinal, eu bem que tentei consertar meu relacionamento com todas essas pessoas e só ganhei mais e mais poses e menos e menos verdades. Ainda que doa deixar pessoas morrerem, se agarrar a elas é viver mal assombrado.

Tati Bernardi
Endureci um pouco, desacreditei muito das coisas, sobretudo das pessoas e suas boas intenções.

Caio Fernando Abreu

São as tuas marcas no meu corpo


"Teus buracos encaixam nos meus exageros" é o tema de hoje. Entra, toma um chá, você faz totalmente parte da minha vida. Você é essa força da natureza que deu certo. Para de ser assim, por favor. Talvez você seja toda a minha vida. Eu mal consigo olhar você nos olhos, são grandes e parece que se você fixar muito o olhar, dá pra ver um mundo. E esse mundo que nunca foi tão mundo antes de você existir, é lindo, mas só enquanto você está lá. E Estará, por semanas, décadas e milênios. São tantas as marcas que já fazem parte da gente, tantas tatuagens e fissuras. Meus exageros são seus, querida. E você ainda é a mulher mais linda do mundo. Tua alma é minha, querida. Deixa eu te olhar contra a luz do sol, deixa? Somos isso: o plural de um, o foco de tudo o que há de melhor. A concentração, a força. A armadura e o soldado, o castelo e teu dragão. Vai dar tudo certo, eu prometo, mas cuida de mim? Eu prometo cuidar de você também. Você também pode e sabe que a casa já é tua, o espaço aberto é pequeno, pois minha alma transborda. Olha, você tá sentindo o frio? Ele vem de dentro, querida. Veste o casaco, vamos sair para tomar um café: você e eu e nossos vicios, nossos antídotos, nossa cabeça. E é bom injetar você, fumar você, ser completamente viciado. Olha, eu acredito em você, querida. Porque você é essa força absoluta que nunca precisará guerrear por si só ou abrir a boca para ter vitória. Você já é ganhadora do mundo. Vai, faz o seu olhar que faz a terra parar de girar. Me dá mais um beijo de borboleta que estanca feridas, fecha frestas abertas e canaliza a dor interior. Fica parada mais uma vez. E ainda assim você vai ganhar. Eu e o mundo. Chega mais perto, deixa eu deitar no teu ombro. Que Deus nos abençõe, querida, precisamos. E nos dê força. E paciência. E mais tempo para amar. Muito mais tempo.
Obrigado pela armadura desamassada e polida, eu sou mais forte com você.
Obrigado pelas mãos, pés e cordas que você foi me jogando pelo meio do caminho, eu cheguei até você.
Obrigado pela proteção, pela delicadeza e pela força constante de todos os dias, é mais facil com você lá.
E obrigado, por ser quem eu procurei em galáxias e mundos, mas só encontrei aqui, em você.


Matheus Oliveira dedicado à Bárbara Bueno

9 de maio de 2010

So long, goodbye


- A gente precisa se afastar, antes que seja tarde demais
O humano que estava a sua frente doia, palpitava, latejava, sofria. Ainda que soe assim, drástico ou dramatico, haviam montes instrasponiveis. A sua frente, porta entreaberta, gotas de chuva que caiam das calhas e alguns galhos de árvores - era outono, havia passado o verão: quente e impulsivo.
- O que?
Carolina não percebia que não podia aceitar o convite, embora o direito de escolha não fizesse mais parte dela. Ela não podia evitar ou sequer imaginar um jeito de parar a separação: tudo era inevitavel.
Os numeros nos calendários pareciam definitivos. Eles eram uma bomba relógio. Mas ao contrário: iam explodindo a cada segundo que passava.
- A gente... A gente não vai dar certo, Carolina. Eu amo muito você, mas não está dando
Ela agia como se ele tivesse perguntado as horas. Era como se a qualquer momento, no lugar das quase lagrimas nos seus olhos, ele fosse sorrir igual a um dinossauro e a chamaria para dançar. Passariam bons momentos.
- Tudo bem, Arthur
- Tudo bem?
- Tudo
E não estava. Alguma coisa dentro de Carolina gritava e pulsava. E de alguma forma, parecia irreversivel: O que Carolina sentia era apenas um reflexo do que acontecia do lado de fora. Não era exagero, nem fuga ou saída. Carolina sentia o que era, e o que era era isso: dor.

Matheus Oliveira

6 de maio de 2010

O beijo da borboleta


- Eu perdi essa guerra, Bárbara
- Então tira essa armadura e deixa eu cuidar de você. A grande guerra acabou.

Matheus Oliveira para Bárbara Bueno, sem acento

3 de maio de 2010

Continue respirando


Ali, na frente da porta do apartamento de Arthur, Carolina sentia que o mundo estava prestes a acabar e que aquele momento poderia não durar mais do que um segundo. Embora os jornais anunciassem a noite mais fria do ano, alguma coisa muito quente passava por suas veias e alguma coisa muito forte pulsava em seu peito. Então, respirou fundo e bateu na porta
- Carolina, oi!
- Oi Arthur
- ahn, quer entrar?
Ela percebeu então que não haviam coisas para somar, somente lesões, no sentido de perder. Não eram perdas irreparaveis, mas dependia. De como tudo ia ficar, como tudo era.
No momento em que entrou, sentiu vontade de sair. Vou embora cedo, o caminho de casa é longo, ensaiou. Mas não conseguia dizer. Há dias era assim: ela pensava em algumas palavras, decorava frases mas na hora de dizer, nada saia. Só havia o silêncio agora. Sem frio, sem medo, se encolheu no sofá
- Não veio me dizer que eu só te machuco dessa vez, veio?
- Mas você só machuca mesmo.
(silêncio)
Eles estavam um pouco próximos, um pouco distantes. Eles estavam juntos, como se houvesse uma sintonia, mas de alguma forma eles não podiam se tocar. Poderiam haver cômodos e pontes, Carolina pensou. E mordeu o lábio.
- Você tá diferente. Nem parece mais a Carolina, parece só Ana. É, agora você é Ana Carolina, não Carolina.
Respirou fundo. "Calma Carolina, o mundo continua lá embaixo. Calma". Vontade de voltar, ela tinha. Voltar no tempo, estancar a fresta aberta ou impedir que ela abrisse. Trancar a sete chaves a caixa de pandora. Mas agora era tarde. O apartamento diminuia de tamanho, a cabeça dela em várias direções, a dele na defensiva.
- Quem mudou é você, eu só tenho que me proteger dessa mudança. Desculpa Arthur, mas esse processo é lento e tá exigindo de mim mais do que eu posso dar. Eu quero me desperdir, antes que seja tarde demais
Mas era. Se Arthur aceitasse a mudança, finalmente seria tarde demais.
Justificar
Matheus Oliveira