25 de outubro de 2010

Tocar o chão


Quando a vi pela primeira vez. Há sempre esse espaço de tempo: quando a vi pela primeira vez e o depois. Quando a vi pela primeira vez, Bárbara era alta e forte, impenetravel, a esperada, o certo, a inquebrável. Ela tinha as unhas amarelas e chegou estufando o peito, como se fosse muito acima de qualquer coisa mas deixando transparecer uma leve insegurança num milésimo de segundo. Ao invés de eu perceber suas pernas, fiquei apenas me perguntando como é que uma garota igual a ela conseguia se sentir insegura. Nos segundos, dias e meses que se seguiram, toquei nela e senti no céu da boca um lugar com muita paz, coisa que só as pessoas muito boas conseguiam proporcionar. Senti do paraíso de poder deitar no chão com ela após uma das grandes quedas até poder carregar ela no espaço entre as minhas asas e a minha costela. Now my feet won't touch the ground now my head won't stop you wait a lifetime to be found. Camaleão, quimera, musa. Sua bondade a faz acreditar que o mundo é bom, e ao mesmo tempo blasfema toda a sujeira que a obrigam a ver. Pensou então, talvez, que não seria o bastante viver só com a risada. Provou do veneno que diminui os grandes e continuou em pé. Não arredou nem um milimetro de seu corpo em negação, não aceitou perder. Com essa falta de jeito para se entregar, com esse brilho no olhar que mistura medo e muito amor, com algumas marcas roxas no corpo e alguns machucados internos, Bárbara me protegeu de mim, me ajudou a dizer não aos meus medos e desejos nocivos, ambos tão intensos que não poderia ser outra pessoa, além dela, para se tornar, alem do meu amor, a minha cura.

Matheus Oliveira para Bárbara Bueno

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