Ali, na frente da porta do apartamento de Arthur, Carolina sentia que o mundo estava prestes a acabar e que aquele momento poderia não durar mais do que um segundo. Embora os jornais anunciassem a noite mais fria do ano, alguma coisa muito quente passava por suas veias e alguma coisa muito forte pulsava em seu peito. Então, respirou fundo e bateu na porta
- Carolina, oi!
- Oi Arthur
- ahn, quer entrar?
Ela percebeu então que não haviam coisas para somar, somente lesões, no sentido de perder. Não eram perdas irreparaveis, mas dependia. De como tudo ia ficar, como tudo era.
No momento em que entrou, sentiu vontade de sair. Vou embora cedo, o caminho de casa é longo, ensaiou. Mas não conseguia dizer. Há dias era assim: ela pensava em algumas palavras, decorava frases mas na hora de dizer, nada saia. Só havia o silêncio agora. Sem frio, sem medo, se encolheu no sofá
- Não veio me dizer que eu só te machuco dessa vez, veio?
- Mas você só machuca mesmo.
(silêncio)
Eles estavam um pouco próximos, um pouco distantes. Eles estavam juntos, como se houvesse uma sintonia, mas de alguma forma eles não podiam se tocar. Poderiam haver cômodos e pontes, Carolina pensou. E mordeu o lábio.
- Você tá diferente. Nem parece mais a Carolina, parece só Ana. É, agora você é Ana Carolina, não Carolina.
Respirou fundo. "Calma Carolina, o mundo continua lá embaixo. Calma". Vontade de voltar, ela tinha. Voltar no tempo, estancar a fresta aberta ou impedir que ela abrisse. Trancar a sete chaves a caixa de pandora. Mas agora era tarde. O apartamento diminuia de tamanho, a cabeça dela em várias direções, a dele na defensiva.
- Quem mudou é você, eu só tenho que me proteger dessa mudança. Desculpa Arthur, mas esse processo é lento e tá exigindo de mim mais do que eu posso dar. Eu quero me desperdir, antes que seja tarde demais
Mas era. Se Arthur aceitasse a mudança, finalmente seria tarde demais.
Matheus Oliveira
- Carolina, oi!
- Oi Arthur
- ahn, quer entrar?
Ela percebeu então que não haviam coisas para somar, somente lesões, no sentido de perder. Não eram perdas irreparaveis, mas dependia. De como tudo ia ficar, como tudo era.
No momento em que entrou, sentiu vontade de sair. Vou embora cedo, o caminho de casa é longo, ensaiou. Mas não conseguia dizer. Há dias era assim: ela pensava em algumas palavras, decorava frases mas na hora de dizer, nada saia. Só havia o silêncio agora. Sem frio, sem medo, se encolheu no sofá
- Não veio me dizer que eu só te machuco dessa vez, veio?
- Mas você só machuca mesmo.
(silêncio)
Eles estavam um pouco próximos, um pouco distantes. Eles estavam juntos, como se houvesse uma sintonia, mas de alguma forma eles não podiam se tocar. Poderiam haver cômodos e pontes, Carolina pensou. E mordeu o lábio.
- Você tá diferente. Nem parece mais a Carolina, parece só Ana. É, agora você é Ana Carolina, não Carolina.
Respirou fundo. "Calma Carolina, o mundo continua lá embaixo. Calma". Vontade de voltar, ela tinha. Voltar no tempo, estancar a fresta aberta ou impedir que ela abrisse. Trancar a sete chaves a caixa de pandora. Mas agora era tarde. O apartamento diminuia de tamanho, a cabeça dela em várias direções, a dele na defensiva.
- Quem mudou é você, eu só tenho que me proteger dessa mudança. Desculpa Arthur, mas esse processo é lento e tá exigindo de mim mais do que eu posso dar. Eu quero me desperdir, antes que seja tarde demais
Mas era. Se Arthur aceitasse a mudança, finalmente seria tarde demais.
Matheus Oliveira
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