27 de setembro de 2010

Eu tô sentindo uma falta. Daqueles dias.. aqueles em que eu era muito, muito muito feliz. Nossa, eu já fui feliz demais. Eu sabia como era (...) Deixa pra lá. Eu acordava só para (...) Deixa pra lá. Eu dormia só para sonhar (...) Deixa pra lá. E de tanto deixar tudo pra lá, eu fui pra lá também. Fiquei jogada, atirada, quase morta. Eu não sorri hoje, e parece que alguém veio aqui, me apresentou uma faca e disse que roubaria meu sorriso. Disse, foi lá e fez. E eu fiquei. Fiquei sem nada. Agora vim pra cá. E continuo sem nada. Nada dá certo comigo, eu não sei. Eu não sei viver bem. O problema sou eu. Virei as costas para tudo, e quer saber... Deixa pra lá. Que lixo. Hoje realmente não dá... não dá pra ser feliz. Preciso morrer só um pouquinho para viver muito. Preciso que alguém devolva o meu sorriso, porque... vou te contar, é o que eu mais gostava de fazer.

Gabi Macedo

25 de setembro de 2010

– Você sabe que de alguma maneira a coisa esteve ali, bem próxima. Que você podia tê-la tocado. Você podia tê-la apanhado. No ar, que nem uma fruta. Aí volta o soco. E sem entender, você então pára e pergunta alguma coisa assim: mas de quem foi o erro?

Caio Fernando Abreu
Até onde podemos ir? Até o limite do suportável. Um belo dia, depois de inúmeras repetições do mesmo erro, a gente desiste. Com tristeza pela perda, mas com alegria pela descoberta, diz pra si mesmo: “cheguei até aqui”. E, então, a vida muda.

Martha Medeiros
Queria te dizer, sua escrotinha que dorme comigo todas as noites, que nenhuma das vezes em que eu cheguei perto da janela e fiquei na ponta dos pés, eu estava sendo sincera. Queria te dizer que, apesar de você se sentir imensamente sozinha de vez em quando, eu sou milhares, e todas essas milhares te acham a melhor mulher do mundo. Queria bater palmas pra todas as vezes em que você sacrificou o que você mais amava em nome de seguir a diante com o teu fígado e todas as vezes em que você ficou pequenininha para que ficar grande fosse ainda maior.

Tati Bernardi

18 de setembro de 2010

Índice: Rupturas


Aquela ruptura era, em especial, diferente de todas as outras. Não haviam promessas nem planos feitos e, consequentemente, não haviam também expectativas. Por isso - por não haver nenhum "eu sou seu" -, não haviam também motivos para se partir. Os planos eram simples, eles deveriam se manter intactos e íntegros. Mas e quando o contrato é violado por um dos assinantes? E quando era preciso fugir para manter a cabeça no lugar? Carolina não sabia.
Mas então baixou a pressa. Era preciso - e imediatamente - fugir. Porque Carolina não suportava mais todos aqueles começos, todas aquelas idas e vindas e estou aqui, por você, mas ali por ela também. Não suportava mais todas aquelas coisas por dentro sem um sabor, sem uma cor. Mas ela sabia que não importava todas as fugas, não importava os bares, o trânsito, tentar se proteger da chuva interna e externa, o emprego novo, o namorado novo, as corridas matinais, as crianças correndo no parque, nada importava pois o que predominaria na sua mente, durantes meses (ou anos, por quê não?) era a respiração do outro, o toque do outro, o tom de sua voz.

Matheus Oliveira

17 de setembro de 2010

Em breve as sombras se afirmariam em escuro e ele não estaria mais ali. A idéia poderia quebrá-lo por dentro, porque era duro de repente não estar mais num lugar. Mas ele nem se machucava, há tanto já adivinhara os movimentos interiores prevenindo os receios, precavendo-se contra a série de sentimentaloidices que se amontoariam bruscas sobre seu coração.

Caio Fernando Abreu

12 de setembro de 2010

Doente e cansada


Então Carolina entrou correndo em seu apartamento e foi direto para o banheiro. Fixou o seu olhar no espelho durante muito tempo e com os olhos borrados, falou que sua ficha caiu. Ela estava completamente só e triste novamente. A cada vez mais só e mais triste. Ela tinha essa mania de acreditar no que juravam ser mentira, de depositar expectativas aonde já havia placa e documento de falido. E então se arrependeu por ser tão assim, cheia de quinas e dedos e exigências, tantas coisas e tão pontudas que havia afastado aos poucos a maioria das pessoas. Eram 6, depois 4, depois 2 e agora 1. E depois, sem sentir nada (porque já havia poucas coisas a se sentir), sem revolta, sem medo, sem espinhos, disse para si mesmo que ia parar. Para doer menos, deveria parar.

Matheus Oliveira

7 de setembro de 2010

De dois, um


- É pura magia.
Foi o que um disse dentro dos extremos da sala. A sala continha duas cadeiras velhas, um e o outro, feixes de luz entrando pelas janelas entreabertas e músicas. Ferozes, calmas.
- Aquela garota é feita de pura magia. Porque ela tem olhos grandes e cílios-postiços-verdadeiros. Não é corrompida nem com a desgraça mundial nem com o lixo que a fazem guardar debaixo da cama. Tem dedos de pianista, ela disse. De artista. E instituída de uma calma e beleza natural, sabe absolutamente tudo sobre buracos negros e brancos, que sugam e expelem.
O outro fez um movimento, como que prestes a falar, mas o primeiro não permitiu.
- Você vai perguntar se estou apaixonado por ela, eu sei. Mas não se preocupe, se fosse paixão, eu sentiria vontade de usufruir do seu corpo e não de sua mente. É mais do que amor, porque se fosse amor, a minha vontade seria de morrer e não de viver por ela. É alguma coisa indecifrada entre amor fraterno, amor de amigo e amor de pai.
No segundo seguinte, o outro se levantou e pôs-se a pensar. Era de fato diferente, essa garota. Conseguia equilibrar nas costas - e sem reclamar - qualquer extremo que lhe fosse dado. Se era dia de guerra, enchia-se de armadura para guerrear pelos outros. Se era dia de paz, sentava no chão e fazia ventar. Era perfeita. E então era isso, perfeição? Meu Deus, era essa a palavra que a descrevia. Enquanto isso, o primeiro acendia um cigarro e se distraía com a fumaça, esperando ver se ela conseguia chegar até o teto. Estava quase parando de falar, então sorriu e recomeçou
- Quero que dure, sabe? Essa viagem. Não sei, alucinação, talvez, o que eles chamam de efeito-colateral-do-remedio, efeito do ópio ou todo esse sentimento que eu não sei descrever. Espero que dure, porque essa história acabou de começar e já foi suficiente para acabar com todos os traumas e quedas que eu tive pelo caminho.

Matheus Oliveira, para Bárbara Bueno, em reciprocidade.

6 de setembro de 2010

- Sei, sei. Você vai perguntar: mas houve um erro? Bem, não sei se a palavra exata é essa, erro. Mas estava ali, tão completamente ali, você me entende?
(...)
- O erro? Eu dizia, pois é, o erro. Eu penso, se o erro não foi de dentro, mas de fora? Se o erro não foi seu, mas da coisa? Se foi ela quem não soube estar pronta? Que não captou, que não conseguiu captar essa hora exata, perfeita, de estar pronta. Porque assim como o movimento de apanhar deve ser perfeito, deve ser perfeita também a falta de movimento, a aparente falta de movimento do que se deixa apanhar. Você me entende? Eu penso também, e se houve alguma interferência no. No em-volta-dos-dois, no ar. No astral, eu penso também. Uma coisa de Deus, do invisível, do mistério, que embora pareça errada ao não te deixar apanhar o prometido, no entanto está absolutamente certa. Porque é assim que é. Naturalmente. As coisas sempre prestes a serem apanhadas. E você eternamente prestes a apanhá-las. Como uma sina. Sempre prestes.

Caio Fernando Abreu

3 de setembro de 2010

Como será que é acordar e não esperar nada com o toque do celular, da campainha, do messenger, do e-mail, do ar, do chão? Como será que é sentir e gostar da vida pela sua calmaria e banalidade? Como será que é viver a banalidade sem achar que isso é banal?

Tati Bernardi