Sempre pensei que aconteceria, de criança acreditava nos adultos que era só pagar pra ver. Feio, meio assim desconfiado, perna em xis, já barrigudo, duvidando que eu conseguisse crescer. Mesmo assim, contudo, o tempo foi passando e eu fui adiando, mudo, os grandes dias que ia conhecer. Quem sabe amanhã? Próximo ano? Cebolinha com seus planos infalíveis ia me ensinar a ser forte, corajoso, bom de bola, um dos bonitos da escola muito embora eu não fizesse questão. Ainda bem que eu sou brasileiro, tão teimoso, esperançoso, orgulhoso de ser pentacampeão, já que se eu fosse americano pegaria uma pistola e a cabeça ia perder a razão: mataria quinze na escola, estouraria a caixola e apareceria na televisão. E por fim cresci, de insulto em insulto eu me vi como um adulto, culto, pronto pra o que mesmo? Já nem sei. Olho e não encontro, penso se não fui um tonto de acreditar no conto do vigário que escutei. Não tem carro me esperando, não tem mesa reservada, só uma piada sem graça de português. Não tem vinho nem champanhe ou taça, só um dedo de cachaça e um troco magro todo fim de mês. Tudo que eu sempre sonhei. Tanto que eu consegui... É tão bom estar aqui... Quanto ainda está por vir... Mas bobagem, quanta amargura, eu já sei que a vida é dura, agora é pura questão de se acostumar. Basta ter coragem e finura e o jogo de cintura aprendido dia a dia, bar em bar. Pra que reclamar se tem conhaque, se na tevê tem um craque e o meu Timão só entra pra ganhar? Pra que imitar Chico Buarque, pra que querer ser um mártir se faz parte do momento se entregar? E por fim tem até namorada, bonitinha, educada, séria, tudo o que mamãe vive a pedir. Tem beijinho e também trepada e a consciência pesada a cada nova vontadinha que surgir de outra mulher, de liberdade, de um amor de verdade, de poder fechar os olhos e sorrir, pensando que então, dali pra frente, seja qual for tua idade, o melhor ainda vai estar por vir!
Luiz Venâncio
Luiz Venâncio
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