27 de janeiro de 2010

Não te tocar, não pedir um abraço, não pedir ajuda, não dizer que estou ferido, que quase morri, não dizer nada, fechar os olhos, ouvir o barulho do mar, fingindo dormir, que tudo está bem, os hematomas no plexo solar, o coração rasgado, tudo bem...


Caio F. Abreu
- Você morre de medo de perder alguém importante. Então, larga a pessoa que mais importa pra você...
- Não estou morrendo de medo, estou seguindo em frente...
- Por que ninguém pode tirar de você o que você não tem mais.


House, M.D.
Há lembranças que não tem sentido compartilharmos com um amigo. Mesmo se fazem mal. Mesmo se são doloridas. Poder-se-ia dizer assim: no amor, a dor é proporcional à beleza da história que você viveu.



Frederico Moccia

26 de janeiro de 2010

E você, meu amigo galvanizado, você quer um coração. Você não sabe o quão sortudo és por não ter um. Corações nunca serão práticos enquanto não forem feitos para não se partirem...


O Mágico de Oz

19 de janeiro de 2010

Não estou absolutamente seguro que, de algum lugar no interior do apartamento, viessem os acordes iniciais de Crazy, he calls me, na gravação de Billie Holiday, e poderia ser também Glad to be unhappy, Sophisticated lady ou qualquer outra dessas canções roucas, gemidas. Naquele tempo eu não as conhecia, mas estou certo de que nessa ou na outra vez perguntei quem era e ela disse que era Billie, e eu anotei, tão aplicado. Tudo isso agora parece clichê, banal, naquele tempo - repito e não me canso, porque é belo e magico na sua melancolia: naquele tempo - tudo era novo, eu nem suspeitava pelas marcas no caminho. Afirmo que havia música, sem medo de mentir, pois mesmo que não houvesse nada e o silêncio do apartamento fosse cortado apenas pelo ruído dos carros na avenida São João, lá embaixo - mesmo que não, que nada e nunca, repito: seria tão perfeito se fosse exatamente assim como penso que lembro, tantos anos depois, que ficou como se tivesse sido.



Caio F. Abreu

16 de janeiro de 2010


Ela dorme sozinha, ali encostada no ombro dele. Ela sente sua presença, o cheiro de roupa limpa, a respiração entrecortada e sabe, sabe que aquilo é para sempre. Mesmo que o tempo passe e a distância aumente, que o sentimento enfraqueça, a memória se torne turva e acontecimentos mais poderosos do que o amor e mais sinistros do que o ódio aconteçam para eles, aquele momento é imutável. Enquanto a estrada passa por debaixo das rodas do carro, ele olha para os seus olhos marejados de lágrimas e sente o medo, que aos poucos, começa a crescer. Quantas coisas ficariam por fazer e quantas mais coisas são necessárias para o conforto? Muitas. Ele nunca conseguiria explicar esses sentimentos a ela, e ela nunca conseguiria sentir esses sentimentos dele.


Matheus Oliveira

15 de janeiro de 2010


Eu me desnudo emocionalmente quando confesso minha carência – que estarei perdido sem você, que não sou necessariamente a pessoa independente que tentei aparentar. Na verdade, não passo de um fraco, cuja noção dos rumos ou do significado da vida é muito restrita. Quando choro e lhe conto coisas que, confio, serão mantidas em segredo, coisas que me levarão à destruição, caso terceiros tomem conhecimento delas, quando vou a festas e não me entrego ao jogo da sedução porque reconheço que só você me interessa, estou me privando de uma ilusão há muito acalentada de invulnerabilidade. Me torno indefeso e confiante como a pessoa no truque circense, presa a uma prancha sobre a qual um atirador de facas exercita sua perícia e as lâminas que eu mesmo forneci passam a poucos centímetros da minha pele. Eu permito que você assista a minha humilhação, insegurança e tropeços. Exponho minha falta de amor-próprio, me tornando, dessa forma, incapaz de convencer você (seria realmente necessário?) a mudar de atitude. Sou fraco quando exibo meu rosto apavorado na madrugada, ansioso ante a existência, esquecido das filosofias otimistas e entusiasmadas que recitei durante o jantar. Aprendi a aceitar o enorme risco de que, embora eu não seja uma pessoa atraente e confiante, embora você tenha a seu dispor um catálogo vasto de meus medos e fobias, você pode, mesmo assim, me amar



Alain the Bottom

11 de janeiro de 2010

Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.

Caio Fernando Abreu

10 de janeiro de 2010

Só ele viu meu corpo de verdade, minha alma de verdade, meu prazer de verdade, meu choro baixinho embaixo da coberta com medo de não ser bonita e inteligente. Só para ele eu me desmontei inteira porque confiei que ele me amaria mesmo eu sendo desfigurada, intensa e verdadeira, como um quadro do Picasso. Quero que ele veja o quanto mudei por causa dele.


Tati Bernardi