9 de novembro de 2010

Ser mais você.


São tão raras as pessoas especiais nesse mundo que fiquei a admirando e me esqueci, por um milésimo de segundo, naqueles cantos sujos daquela escola cheia de histórias e intenções mortas. Depois, sobrevoei Bárbara com asas falidas e entrei debaixo de sua proteção, lá me desnudei emocionalmente e pus para fora do meu peito todas as emoções pesadas que eu carregava em mim. Vomitei em seus pés pessoas e sentimentos.
Você é linda, você é forte, você tem um útero, você tem esses buracos onde eu posso esconder os meus exageros e não sentir vontade de me cortar em praça pública, de tanto que sobra. Não sei muito ao certo o que te dizer, mas sei que com os seus passos lunáticos e com a sua voz que emana muita paz, eu salvei segundos dos meus dias, salvei dias da minha existência, salvei as pulsações pesadas que eu ouço na hora de dormir, que me contam de segundo em segundo e confundem o vazio com resto de prazer.
Quero sentir aquilo de novo, meu amor, quero morrer de dor no peito e ter certeza que é mais ou menos amor mesmo. Qual é mesmo a analogia que fala de água, sal e boiar? E Bárbara corre até mim em passos leves que também são de borboleta - além de seus beijos - e diz, colada em mim: Mar morto. Essa é a analogia que a gente fez com o mar morto. Onde você boia sem fazer força e arde só para sentir qualquer coisa plausível.
Então não para, eu tenho um documento que estava em branco mas agora está cheio de você. Continue tentando disfarçar a dor nos pés, continue tentando controlar o desespero de perder o controle, vamos dar mais uma volta, me olha assim de novo com esses olhos grandes e profundos.
Continua fazendo sombra para mim em dias de sol, me enfiando nos cortes, polindo minhas armaduras, alivie minhas dores, meus tormentos, continue curando a falta do meu peito, a cegueira do meu olho. Me jogue realidade e ilusão e faça de mim o que você sempre fez: seu. Bárbara, eu não sei viver, eu não sei sentir, e sei muito menos não sentir, então me tranca em qualquer lugar perto das suas costelas que aí eu continuo me inebriando na sua vida.
Eu sei que se eu sentir qualquer coisa que não seja você, eu volto a expelir lixo e aí ninguém vai chegar perto de mim. Se eu absorver alguma coisa que não é você, eu crio casco e unhas gigantes que machucam as pessoas e procuram os pontos fracos dos outros para se sentir mais forte. Se eu não enxergar você eu me lembro daquelas cabeças que só querem querer, gozar e fugir.
Eu não quero lembrar de que não sobrou nada dos tijolos que eu pus meio sem jeito em cima do nada. Eu não quero lembrar que o vento passa pelas minhas janelas tão forte que quase arranca os pedaços que eu custei a colar. Eu não quero lembrar do mundo e do seu poder regenerativo enquanto eu a cada dia perco mais e mais e ainda assim não consigo levantar de manha de tanto que meu corpo pesa.
Bárbara vem, chama o guincho, vamos embora daqui por favor. Quero ver beleza, quero ver verdade, não aguento mais ter nojo de todo mundo, medo de todo mundo, descrença em todo mundo. Como é que você faz isso de modo tão extraordinário, de não sentir e ainda brilhar como se fosse sol? Então é isso, eu preciso que você seja tão grande e brilhante nos meus olhos que não deixe mais nenhuma alma suja aparecer. Eu quis amar alguém de verdade, e você com os cílios de verdade e as suas emoções de verdade é a única pessoa de verdade que eu conheço.
Eles não, eles são sujos, eles tem segundas, terceiras e quartas intenções, eles procuram qualquer pessoa para esfregar as suas periferias nojentas, eles machucam, eles se fantasiam de personagens de desenhos animados, eles esquecem tanto amor. Eles não sabem o que é sentir com a força de mil mundos e então parar, estacionar. Eu sei o que se passa dentro de você e então espero que seja digno de estar contigo.
Então continue com a sua dança, continue sendo metade borboleta, continue sendo inteira, porque enquanto você continuar sendo você, eu continuo sendo você também.

Matheus Oliveira, para Bárbara Bueno, pela vida.

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