28 de julho de 2010

As diferenças


Foi aos poucos que Carolina se aproximava de Fernando. Uma troca de olhares com algum tipo de tensão, depois uma risada despreocupada, depois um toque, depois uma quase aversão junto com um quase amor. A vida dos dois eram marcadas por quases: Ela, quase bonita. Ele, quase simpático.
Carolina olhou em volta e notou que estava completamente vazia, as paredes do lado de dentro quase colando-se umas as outras. Não conseguia distinguir o que passava pela sua mente, esse sentimento sem cara de sentimento, essa dor que de tanto doer, nem doía mais. O clima pesado de que algo fora ferido era quase tangível. Mas não era. Nada mais era tangível para ela.
Fernando não sabia como é que se fazia, como é que se doava, como é que se conectava. Alguma coisa ficava perdida naquela busca de algo inatingível, sacrificava muito, ele que queria viver.
Se encontraram na ponta das escadas. De dentro dela, janelas abriam, portas rompiam, vidros estilhaçavam, o ar parecia fugir a cada toque, a cada olhar, a cada sorriso. De dentro dele, nada. Se houvesse qualquer coisa, ela poderia ao menos se segurar, qualquer coisa. Mas ainda não havia, de ambas as partes. Por mais que restassem estilhaços, de sonhos tortos não dava mais para conceber realidade. Apesar de cheia de tudo, Carolina estava vazia como Fernando. Para ele, não havia com o que se preocupar. Para ela, só não era amor. De resto, era tudo, inclusive fuga. Principalmente fuga.

Matheus Oliveira

1 comentários:

Yasmin Silveira disse...

Muito bem escrito! Adorei!!! Mesmo, mesmo!

http://orasbolotas.blogspot.com/

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