Tomou com sua mão a minha mão, num gesto amigo
que me confortou, e assim introduziu-me no mundo das
secretas penas. Suspiros, choros, gritos altos, e desesperados
corriam naquele lugar escuro.Ouvindo-os, meu pranto corria também.
(A Divina Comédia - Dante Alighieri)
Forçava a mente para tentar lembrar aonde lera. "Naquele fundo vimos, após, gente de cor brilhante revestida, o avançar chorando e com passos fartos" e "que alguns segundos antes, sentiria o seu corpo inteiro relaxar por completo - como um golpe". Era isso, em nenhum momento uma dor, nem alegria, nem riso. Nada crescia de dentro de seu peito, nem borbulhava na sua garganta. Não havia alma querendo vir à tona, não havia gestos nervosos e ensaiados na frente do espelho grego. Ela percebeu que estava indo embora de si mesma como quem dorme, que não estava fugindo de nada, estava apenas escorregando para longe. Poético, até, esses sentimentos que passam por entre os dedos e se sublimam até não haver mais nada. Seria então esse o tempo anunciado de avançar chorando com passos fartos e corpos relaxados e um pouco inertes? Só sabia que partia assim, sem ter tempo de nada, rápido, decidida, imponente, impotente.
Matheus Oliveira
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