22 de março de 2010

O contraste da minha sujeira


O mundo inteiro estava chovendo lá fora, as pessoas mergulhando na propria consciência para não sentir nada, todos estavam caminhando para o inferno, e ainda assim eu só tinha olhos para os seus olhos. Enquando o mundo se sujava cada vez mais na sua lama, Bárbara estava pulando de precipicios, Bárbara estava tentando amar sem defender o coração. E eu queria dizer, eu só queria dizer que você não pode ter orgulho de mim, que tudo o que eu faço é sujo, e que, no fim das contas, eu vou sujar você também. Você é tão linda, você é tão pura, você é tão humilde, que eu preciso muito te sujar só para me sentir mais limpo.
Bárbara preencheu o vazio do meu estômago nas manhãs mais entediantes, Bárbara esteve lá para lamber todas as minhas feridas, por mais que as suas já tivessem o gosto suficientemente amargo da tragédia. São tão poucos os momentos lindos que nós vemos ao nosso redor que, depois de a conhecer, eu quis prestar uma homenagem diária a ela, eu quis que ela fosse um pouco igual a mim só para eu não me sentir fora desse mundo.
Ela quis ser minha amiga, e me perguntou aonde doía. Acontece que ela nunca chegou muito perto da sujeira, e para perguntar isso, ela ficou colada em mim. Queria te dizer, Bárbara, enquanto eu dou risada meio cinica e leio um livro shakesperiano todos os pontos que doem em mim. Mas chega a ser pecado contar isso nos seus ouvidos, então me deixa só agarrar na barra das suas calças e me leva embora daqui. E sim, continua a aliviar todas as minhas marteladas, todas as minhas quedas e todos os meus baques. Eu não sei viver, por isso me deixa virar só espectador da sua vida. Por favor, não se importe com os meus dedos, minhas quinas e minhas pontadas, chega mais perto.
E Bárbara volta a ser única e sozinha, e sai andando para cheirar outros mundos e volta. E diz, com o rosto colado no meu, que não gosta de falar de si, porque o que vem de dentro assusta demais o que está do lado de fora, e o que está fora nunca entra dentro, nunca. Eu quero que você saiba, menina, que o que vem de dentro de você é macio, e que se você precisar, te dou meu braço. Te dou meus dedos, minha mão, minhas pernas, meu nariz, meu queixo, meus olhos, te dou todos os meus cantos sujos, menina. Ninguém sabe o que se passa dentro da gente, mas eu imagino o que passa dentro de você, e só por isso eu preciso tanto estar aí dentro.

Matheus Oliveira, inspiração de Tati Bernardi.

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