Não, dessa vez não tinha soldado de chumbo: era só a bailarina, e essa não precisava de soldado nenhum para se sentir confortavel. Sem armas de fogo, sem devoções e nem paixões destrutivas: a menina, que era quase soldado e quase bailarina, era o ultimo segundo, a decisão, o calor, o suspiro. Tinha o desejo de ter o mundo, e quando o possuia, somente uma pequena parte dele o bastava, porque o mundo nunca fora inteiro. O mundo tinha seus ideiais, seus próprios planos para ela, e ela caminhava sozinha. Talvez isso, talvez aquilo. Talvez, o mundo mesmo, por ser covarde demais, a assustava, e ela, por ser de chumbo demais, assustava o mundo. Isso de conhecer um ao outro seria a morte, o martírio. O mundo era unico, e ela se dividia. Se dividia em várias partes, cada qual com o seu gosto, seu cheiro, tuas perguntas. Se dividir era uma forma de sentir os cantos do mundo, sem tocar neles. Por isso perguntava aos habitantes do mundo como é que se vivia, como é que se via, como é que se sentia? Ela nunca havia sentido. Não por falta de tentativas, não por falta de opções. Tentou uma, duas vezes se comprometer. Mas como é que se vive? Então, lutava mais para acabar com os sentimentos internos do que a favor deles. No fundo, o que ela sabia era a realidade: quando alguém a abraçava, era menos alguém de verdade e mais um desenho ensaiado. E mesmo que não quisesse se perder de ninguém, mais importante agora era não se perder de si mesma. Ela sabe, ela sabe.
Matheus Oliveira
Para a menina com os olhos de jabuticaba
1 comentários:
Extasiado.
Parabéns pelo texto, de um humanismo indecente.
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