21 de novembro de 2010

Você, de preto e branco


Não sei mais o que dizer, não sei mais como dizer sem parecer reduntante, sem parecer que já tenha dito ou estava prestes a dizer até que. Então, vamos nos situar no tempo e espaço: era uma manhã ensolarada, mas as paredes eram frias. Esperei e esperei por você, permaneci e encostei numa dessas paredes, paredes essas que já estavam ali antes de eu ter chegado até elas, antes mesmo de ter chegado a este mundo, e portanto, quem era eu para reclamar de alguma espera que você me impusera, já que as paredes estavam ali e ali em pé já fazia tempo. O que era essa espera?
Confesso que, a principio, gostava pouco de você. Mentira, eu não gostava mesmo de você. Quem era você para rir alto pelos cantos, para ser minúscula assim do meu tamanho, quem era você, meu Deus do céu? E então despontou a sensação de que o ponteiro do relógio não se movia, e começou a me dar uma sensação de que nada seria e que, cedo ou tarde, eu precisaria de mais alguém como eu além da menina dos olhos de jabuticaba. E você estava ali, rindo tão alto e tão pequena e tão do meu tamanho, e tão cheia de vida e tão cheia de graça, e nossa, quem era você?
Lá dentro daquele lugar cheio de paredes e intenções mortas, faltou ventilação e você já andava agarrada em minha cintura e eu me vi tão seu, tão seu, que baixou a impressão de que eu nunca mais seria meu de novo. Sentávamos e andávamos todos os dias, finalmente, finalmente juntos, finalmente minha, finalmente seu, deixando as músicas tomarem lugar de um vazio, de uma falta, de uma cratera e eu deixei, sorrateiramente, meus braços encostarem no seu corpo. You are first on my list, I never knew that I could feel like this, sempre vai haver uma canção cantando tudo de nós, não é mesmo?
Era uma manhã de sol, era uma manhã de chuva, o ar estava abafado, as paredes estavam geladas, e então eu senti, senti ali e ali eu senti que você, assim, tão pequena do meu tamanho, vestida de branco da camiseta e preto do couro vale mais e vale mais e vale muito mais do que qualquer outra em cores.


Matheus Oliveira, para Letícia. Parabéns: pelo aniversário, pelo gosto musical, pelos carinhos, pela felicidade, pela mãe muito fofa que você tem, pelas brincadeiras além da conta, pelos sorrisos alem da conta e por todos os dias de nossa vida, que eu tenho certeza que será maravilhosa.

9 de novembro de 2010

Ser mais você.


São tão raras as pessoas especiais nesse mundo que fiquei a admirando e me esqueci, por um milésimo de segundo, naqueles cantos sujos daquela escola cheia de histórias e intenções mortas. Depois, sobrevoei Bárbara com asas falidas e entrei debaixo de sua proteção, lá me desnudei emocionalmente e pus para fora do meu peito todas as emoções pesadas que eu carregava em mim. Vomitei em seus pés pessoas e sentimentos.
Você é linda, você é forte, você tem um útero, você tem esses buracos onde eu posso esconder os meus exageros e não sentir vontade de me cortar em praça pública, de tanto que sobra. Não sei muito ao certo o que te dizer, mas sei que com os seus passos lunáticos e com a sua voz que emana muita paz, eu salvei segundos dos meus dias, salvei dias da minha existência, salvei as pulsações pesadas que eu ouço na hora de dormir, que me contam de segundo em segundo e confundem o vazio com resto de prazer.
Quero sentir aquilo de novo, meu amor, quero morrer de dor no peito e ter certeza que é mais ou menos amor mesmo. Qual é mesmo a analogia que fala de água, sal e boiar? E Bárbara corre até mim em passos leves que também são de borboleta - além de seus beijos - e diz, colada em mim: Mar morto. Essa é a analogia que a gente fez com o mar morto. Onde você boia sem fazer força e arde só para sentir qualquer coisa plausível.
Então não para, eu tenho um documento que estava em branco mas agora está cheio de você. Continue tentando disfarçar a dor nos pés, continue tentando controlar o desespero de perder o controle, vamos dar mais uma volta, me olha assim de novo com esses olhos grandes e profundos.
Continua fazendo sombra para mim em dias de sol, me enfiando nos cortes, polindo minhas armaduras, alivie minhas dores, meus tormentos, continue curando a falta do meu peito, a cegueira do meu olho. Me jogue realidade e ilusão e faça de mim o que você sempre fez: seu. Bárbara, eu não sei viver, eu não sei sentir, e sei muito menos não sentir, então me tranca em qualquer lugar perto das suas costelas que aí eu continuo me inebriando na sua vida.
Eu sei que se eu sentir qualquer coisa que não seja você, eu volto a expelir lixo e aí ninguém vai chegar perto de mim. Se eu absorver alguma coisa que não é você, eu crio casco e unhas gigantes que machucam as pessoas e procuram os pontos fracos dos outros para se sentir mais forte. Se eu não enxergar você eu me lembro daquelas cabeças que só querem querer, gozar e fugir.
Eu não quero lembrar de que não sobrou nada dos tijolos que eu pus meio sem jeito em cima do nada. Eu não quero lembrar que o vento passa pelas minhas janelas tão forte que quase arranca os pedaços que eu custei a colar. Eu não quero lembrar do mundo e do seu poder regenerativo enquanto eu a cada dia perco mais e mais e ainda assim não consigo levantar de manha de tanto que meu corpo pesa.
Bárbara vem, chama o guincho, vamos embora daqui por favor. Quero ver beleza, quero ver verdade, não aguento mais ter nojo de todo mundo, medo de todo mundo, descrença em todo mundo. Como é que você faz isso de modo tão extraordinário, de não sentir e ainda brilhar como se fosse sol? Então é isso, eu preciso que você seja tão grande e brilhante nos meus olhos que não deixe mais nenhuma alma suja aparecer. Eu quis amar alguém de verdade, e você com os cílios de verdade e as suas emoções de verdade é a única pessoa de verdade que eu conheço.
Eles não, eles são sujos, eles tem segundas, terceiras e quartas intenções, eles procuram qualquer pessoa para esfregar as suas periferias nojentas, eles machucam, eles se fantasiam de personagens de desenhos animados, eles esquecem tanto amor. Eles não sabem o que é sentir com a força de mil mundos e então parar, estacionar. Eu sei o que se passa dentro de você e então espero que seja digno de estar contigo.
Então continue com a sua dança, continue sendo metade borboleta, continue sendo inteira, porque enquanto você continuar sendo você, eu continuo sendo você também.

Matheus Oliveira, para Bárbara Bueno, pela vida.

5 de novembro de 2010

Os que existem


Tenho três zilhões de amigos e ainda assim eu não poderia sentir um vazio tão oco. O meu melhor amigo sabe muito pouco sobre a minha vida vida porque ele é muito limpinho e tem agonia desses paninhos que deixam pelinhos pelos cantos. Eu sou um paninho muito grande e consequentemente tenho muitos pelinhos, que eu seguro, aperto, às vezes escorrega um mas eu consigo me abaixar quase tombando e recupero. Deus que me livre sujar o branco e o impecável com o que é feio e desgraçado. Não tem mais bagunça na sua sala e nem pelinhos brancos nos seus cantos. Estamos bem, prosseguimos. Tenho outro amigo que é a encarnação de um deus grego na terra. É de uma beleza de tirar o folêgo e tem um humor delicioso. Mas como todas as pessoas muito desejadas, ele não precisa e nem quer ouvir sobre os calos, dentes e hematomas que uma pessoa vazia pode ter. Ele quer se divertir, e sabe que se não for comigo, existem milhões de possibilidades de destino. E então continuamos. Minha melhor amiga foi expulsa da minha vida por forças maiores. Não a vejo faz tempo, mas tudo bem, seguimos em frente. Minha outra melhor amiga não é boa em te levantar das quedas. Além disso, sempre que pode, tira sarro da cara dos outros. Ela me ama muito, mas também adora que as pessoas errem, só para poder se sentir acertando. E não existe problema, prosseguimos. Existe a outra melhor amiga também, que é a minha xerox. É exatamente como eu, pensa como eu, fala como eu e até as mesmas piadas. Ela consegue me erguer por algumas horas, mas olha? Tá dificil até para ela. E a minha melhor amiga de todas é perfeita. Mas apesar da força íncrivel que ela aprendeu a ter para me proteger, ela não sabe como me segurar quando alguma coisa dá errada em mim.
E é isso. Cansei de negar a realidade que atiram em mim. Eu corro atrás de quem não se importa, sim, porque eu preciso acreditar que alguém vai se virar e começar a se importar. E eu pago um pau, sim, para quem teve o poder de me fazer sentir, senão completo, pelo menos semi-preenchido. Eu invento amor, sim, e dói admitir isso. Eu faço história em cima de conto breve, sim, três saídas e um beijo as escondidas é o suficiente para eu encontrar o amor da minha vida. É isso, eu sou oco e quando a solidão dói, eu preciso sair as ruas inventando personagens. Me desculpem.

Matheus Oliveira