19 de janeiro de 2010

Não estou absolutamente seguro que, de algum lugar no interior do apartamento, viessem os acordes iniciais de Crazy, he calls me, na gravação de Billie Holiday, e poderia ser também Glad to be unhappy, Sophisticated lady ou qualquer outra dessas canções roucas, gemidas. Naquele tempo eu não as conhecia, mas estou certo de que nessa ou na outra vez perguntei quem era e ela disse que era Billie, e eu anotei, tão aplicado. Tudo isso agora parece clichê, banal, naquele tempo - repito e não me canso, porque é belo e magico na sua melancolia: naquele tempo - tudo era novo, eu nem suspeitava pelas marcas no caminho. Afirmo que havia música, sem medo de mentir, pois mesmo que não houvesse nada e o silêncio do apartamento fosse cortado apenas pelo ruído dos carros na avenida São João, lá embaixo - mesmo que não, que nada e nunca, repito: seria tão perfeito se fosse exatamente assim como penso que lembro, tantos anos depois, que ficou como se tivesse sido.



Caio F. Abreu

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