“Fico tão cansada às vezes, e digo para mim mesma que está errado,
que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. (…)"
Caio Fernando Abreu
que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. (…)"
Caio Fernando Abreu
De segunda a sexta, das 6 às 6, banho, esfregava bem as costa, perfume com cheiro de talco, ônibus cheio, ônibus cheio. Olhos irônicos ao ver os homens que passavam, o tempo ocupando uma grande parte de dentro e ainda sim todo aquele espaço que sobrava e preenchia. Carolina olhava-se no espelho e via marcas (tantas marcas) e tão profundas. Olhava-se no espelho com ironia, se achando cínica, tão cínica, cínica, cínica. Sentia tanta falta de tudo ultimamente: de Fernando, da garota que gostava de garotas que morava na rua de trás, da garota que gostava de garotos (até demais) da rua de baixo, de Bianca, de Arthur (principalmente de Arthur), de Lucas (principalmente de Lucas) e pensava consigo mesma que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, então meu deus (em minúscula), que bom, meu deus, que amor, desse jeito assim, ela só sentiria uma vez. O que sobrou depois que estes foram embora foi só uma vontade de furar o saco, romper os cordões, deixar doer, deixar deitar, esperar a esperada hora de terminar o dia e de começar outro. Carolina olhava-se no espelho e via seus olhos tão irônicos, tão cínicos e agora tão tristes, e foi explicando aos trancos, agora mais cansada:
- uma hora tudo vai ser limpo e lindo e claro e preenchedor.
Carolina sabia bem de seu poder auto-destrutivo de estragar a vida com beleza, beleza que preenchia todos os seus espaços, espaços que não se satisfaziam nunca. Ela e a sua vontade de ser novamente somente a garota que não queria mais nada, só tomar um banho quente e assistir alguma comédia-romântica-piegas em fins de semanas frustrados. Ela só tinha vontade de parar, enfim. Parar finalmente.
Matheus Oliveira
- uma hora tudo vai ser limpo e lindo e claro e preenchedor.
Carolina sabia bem de seu poder auto-destrutivo de estragar a vida com beleza, beleza que preenchia todos os seus espaços, espaços que não se satisfaziam nunca. Ela e a sua vontade de ser novamente somente a garota que não queria mais nada, só tomar um banho quente e assistir alguma comédia-romântica-piegas em fins de semanas frustrados. Ela só tinha vontade de parar, enfim. Parar finalmente.
Matheus Oliveira