30 de março de 2011

O que sobrou

“Fico tão cansada às vezes, e digo para mim mesma que está errado,
que não é assim, que
não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. (…)"
Caio Fernando Abreu


De segunda a sexta, das 6 às 6, banho, esfregava bem as costa, perfume com cheiro de talco, ônibus cheio, ônibus cheio. Olhos irônicos ao ver os homens que passavam, o tempo ocupando uma grande parte de dentro e ainda sim todo aquele espaço que sobrava e preenchia. Carolina olhava-se no espelho e via marcas (tantas marcas) e tão profundas. Olhava-se no espelho com ironia, se achando cínica, tão cínica, cínica, cínica. Sentia tanta falta de tudo ultimamente: de Fernando, da garota que gostava de garotas que morava na rua de trás, da garota que gostava de garotos (até demais) da rua de baixo, de Bianca, de Arthur (principalmente de Arthur), de Lucas (principalmente de Lucas) e pensava consigo mesma que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, então meu deus (em minúscula), que bom, meu deus, que amor, desse jeito assim, ela só sentiria uma vez. O que sobrou depois que estes foram embora foi só uma vontade de furar o saco, romper os cordões, deixar doer, deixar deitar, esperar a esperada hora de terminar o dia e de começar outro. Carolina olhava-se no espelho e via seus olhos tão irônicos, tão cínicos e agora tão tristes, e foi explicando aos trancos, agora mais cansada:
- uma hora tudo vai ser limpo e lindo e claro e preenchedor.
Carolina sabia bem de seu poder auto-destrutivo de estragar a vida com beleza, beleza que preenchia todos os seus espaços, espaços que não se satisfaziam nunca. Ela e a sua vontade de ser novamente somente a garota que não queria mais nada, só tomar um banho quente e assistir alguma comédia-romântica-piegas em fins de semanas frustrados. Ela só tinha vontade de parar, enfim. Parar finalmente.

Matheus Oliveira

9 de março de 2011

Pensa em tudo que já foi feito e acredite em seu roteiro. Se teve dias de sol e noites nubladas, não importa. A vida não pode ser rebobinada como uma fita e cada personagem e cena teve o seu lugar na história. Não descarte as emoções sentidas nem menospreze as atitudes escolhidas. Apenas assista novamente de fora, cada pedaço, cada momento. Não pause sua vida porque em algum capítulo o roteiro não te agradou, há ainda muitas cenas por vir. Se no seu presente existem lembranças do passado, saiba que foi o seu passado que construiu seu presente. Não se ausente!


Fernanda Gaona